Já de volta à Finlândia, depois de uma semana, estava caminhando e, repentinamente, tive uma vontade de ligar para o Brasil e falar com minha irmã gêmea. Ela me disse que estava com uma gripe forte e não se sentia bem. Disse-lhe que, se não melhorasse, fosse ao médico naquela mesma noite. Não consegui pegar no sono e, por volta das 4 horas (22 horas no Brasil), resolvi ligar novamente porque sentia uma angústia inexplicável. Dessa vez, quem atendeu foi Jocely, a filha mais velha de Joselita, dizendo-me que tiveram que retornar ao médico em função da falta de ar que sua mãe estava sentindo e já estavam no hospital (para minha tristeza, um hospital do SUS) em uma maca no corredor. “Meus Deus, de novo não!”, pensei.
O médico que a atendeu havia detectado uma pneumonia. A partir desse momento, começou minha tortura, minha angústia de estar, mais uma vez, longe dela. No dia seguinte, ainda na maca e no corredor, havia informações desencontradas quanto ao seu estado de saúde. Minha irmã estava sentindo muitos enjoos, vômitos, febre alta e mal-estar. Depois de dois dias, finalmente foi transferida para um leito e pôde receber mais atenção por parte dos médicos e enfermeiros. No dia seguinte, pela manhã, uma médica chegou, aos gritos, ao quarto onde ela estava, dizendo:
– Essa paciente está infartada! Está tendo a medicação inadequada.
A partir de então, fizeram os exames e constataram que ela realmente havia sofrido um infarto. Eu ligava minuto a minuto ao Brasil, novamente sentindo um desespero terrível, com um medo enorme de perdê-la. Certo dia, falei com o médico, que me disse:
– Seu estado é muito crítico por sua saúde apresentar outras complicações: além do infarto, sua irmã tem problemas renais, respiratórios e, para completar, tem pedras na vesícula que está infeccionada.
Os dias foram passando, e meu desespero continuava porque, mesmo sem querer, eu pensava no pior. Depois de três semanas, ouvi de minha sobrinha que Litinha estava falando normalmente e dizia que tinha fome, mesmo sendo hidratada com soro. Essa notícia soou como música aos meus ouvidos. Depois começou a alimentar-se e, gradativamente, a melhora tornou-se visível até retornar a sua casa.
Eu e minha irmã gêmea, Joselita, em diversos momentos de nossas vidas.... |
Meus filhos estão bem. Anapaula, a mais velha, continua estudando para ter um futuro brilhante. Adriana, minha filha do meio, é formada em línguas e continua trabalhando com suas traduções. Meu neto, com oito anos, já domina suas quatro línguas. E Ricardo está trabalhando na aviação e formou-se no curso de piloto. Sua carreira vai de vento em popa e atualmente já está pilotando Airbus 319, 320 e 321 em voos intercontinentais. Sinto-me feliz também por eles terem tido a oportunidade de ter a nacionalidade da União Europeia. Esse é mais um motivo para agradecer e ter a certeza de que Deus existe e está sempre ao meu lado.
Meu irmão, Jorge, faleceu. Depois que o reencontrei no Brasil, ainda ficamos juntos por uns quatro meses. Por muitas vezes, chateei-me com ele por haver recomeçado a beber. Voltei para a Finlândia, e ele permaneceu no Sítio do Conde. Retornou para o Sul do Brasil depois da amputação da perna de Joselita, no início de julho de 2003. No final de 2004, quando retornei ao Brasil, estava extremamente abalada por ver minha irmã sem sua perna, por isso, durante minha estadia, esqueci-me de entrar em contato com ele. Em 2005, outra vez no Brasil, mas envolvida com a primeira publicação de meu livro, também não o procurei. Já na Finlândia, em agosto de 2006, recebi, extremamente emocionada, a notícia de que meu irmão Jorge havia falecido. Que choque! Que tristeza! Não era possível. Meu irmão era um homem saudável, forte, de apenas 56 anos. Essa notícia foi realmente uma grande surpresa. Que dor terrível tomou conta de mim! Ouvi, ainda em choque, a história de que ele tinha chegado a sua casa para almoçar e pedido para sua esposa fazer-lhe um chá, pois sentia uma dor no peito. Eles pensaram que eram gases. Enquanto a esposa virou-se para fazer o chá, ouviu um forte barulho e, em pânico, viu-o já no chão morto. O pior, além da dor de tê-lo perdido, sentia um peso na consciência por não lhe ter telefonado nas duas vezes em que havia estado no Brasil. Ainda não consegui recuperar-me totalmente, tenho muitas saudades dele.
Minha irmã, Joselita, depois de quatro anos de sua amputação, continua brigando para viver, pois as dores em consequência da neuropatia são muito fortes. No entanto, depois de todo esse tempo, resolveu começar a reabilitação de sua perna porque, mesmo sem movimentos e com poucas esperanças dos médicos de que volte a andar, está com muita força e vontade. Depois do recente infarto, está em fase de recuperação e ainda necessita fazer uma cirurgia na vesícula por existir o perigo de ter uma forte crise.
Quanto a mim, estou torcendo para melhorar das tonturas e, mais uma vez, ir ao Brasil para abraçar minha irmã e meus entes queridos, completando, assim, desde que vim morar na Finlândia, cem e quatro travessias do Oceano Atlântico para visitar minha família, o país em que nasci e o Conde, onde ainda possuo uma morada.
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