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Thursday, August 8, 2013

CONTINUANDO COM AS VIAGENS PARA O BRASIL E ENFRENTANDO MAIS PROBLEMAS

Como sempre, ia ao Brasil todos os anos. O meu filho estava trabalhando como Piloto na TAM ( Empresa Aerea Brasileira). Eu e Jouko tínhamos o direito como pais de viajarmos para o Brasil em Classe Executiva, várias vezes ao ano. No início de 2010, precisamente na primeira semana de janeiro, fui novamente ao Brasil e algumas semanas depois da minha chegada, passamos um pesadelo muito grande com a doença de Jocely a minha sobrinha mais velha. Ela já não vinha se sentindo bem e certa noite acordamos com ela com uma dor forte na região do Mediastino e com falta de ar. Chamamos a SAMU, que a levou para um posto de saúde no bairro da Boca do Rio. O estado dela era grave e eu como sempre querendo ajudar, comecei a procurar um hospital de grande porte, pois sabia que ali, não seria o lugar adequado para salvá-la.

No outro dia cedo, fomos a luta, falando com todos que pudessem conhecer alguém para ajudar. No entanto, nada acontecia e ela piorava. Fizeram nesse pequeno posto de saúde do SUS, uma espécie de UTI, onde ela tinha os aparelhos que a ajudavam a respirar. Como a família era grande e a pressão por um lugar melhor tornou-se, literalmente, um pesadelo para enfermeiros e médicos que lá trabalhavam. A minha irmã gêmea, com a saúde debilitada, era também uma preocupação para nós devido ao medo que tinha de perder a filha que tanto adorava. Com os hospitais sempre alegando falta de vagas na UTI, os dias iam se passando.

Esta é minha sobrinha, Jocely.

Certa noite um médico bem jovem chamou-me e disse-me:

-Senhora, o estado da sua sobrinha é muito grave! Ela terá que sair daqui, porque necessita de uma UTI de verdade, principalmente que está em um posto de emergência, onde a toda hora, chegam pessoas passando mal e ela apesar de estar isolada em um espaço pequeno, está vulnerável a adquirir bactérias trazidas de fora. Ela está com uma forte infecção urinária, os rins estão comprometidos e os pulmões também. Continuava a dizer-me: trocarei todas as medicações que ela está usando e esperamos até amanhã cedo. Do lado de fora, uma quantidade de pessoas entre familiares e amigos que vieram até do interior do Estado. Não entrei em desespero porque vi no olhar daquele médico, aparentando menos que trinta anos, um anjo e isso me fortaleceu bastante. Nessa noite, fazia mais que uma semana que ela estava lá lutando pela vida e mesmo com as amizades que tenho em Salvador, dentre outras tentativas de amigos e familiares, não foi possivel conseguir uma vaga em nenhum hospital. Alguns até acharam que essa difculdade de encontrar uma vaga deveu-se ao fato que, no prontuário dela estava escrito, a mesma tinha infecção generalizada.

Na manhã seguinte, quando cheguei ao posto de saúde, o que vi deixou-me com o coração aos pedaços de pena ao ver as pessoas deitadas naqueles bancos sujos e algumas até deitadas no chão, esperando por notícias do médico. Dirigi-me imediatamente ao leito onde estava minha sobrinha e a minha irmã Regina, que tinha ficado a noite junto dela ( só era permitido ficar uma pessoa naquela espaço tão pequeno). Essa irmã, estava sentada cochilando e assim que entrei abriu um sorriso e disse-me: Zeinha (me chamava assim carinhosamente), Jocely pela madrugada acordou e pediu-me um água de côco bem gelada. Providenciei essa água e tirei-lhe o oxigênio, ela tomou todo o copo e voltou a dormir. Olhe e veja que ela esta respirando normal. A dispinéia sumiu. - Meu Deus!, ai estava o milagre que vi no rosto e no olhar daquele anjo (médico), ali estava a explicação para a tranquilidade que tive depois que falei com ele.

Dalí em diante, já respirando sem os aparelhos e usando a nova medicação, minha sobrinha se recuperava para a surpresa dos médicos. Quando voltou à casa depois de uma semana, mesmo sentido-se melhor, uma dor no mediastino a incomodava. Não pensamos nem em procurar um médico do SUS. A minha querida amiga Madalena levou-a para ser consultada com o sobrinho dela que é especializado em pneumologia e o mesmo pediu uma biópsia do mediastino. Os resultados não foram bons e os médicos achavam que ela tinha um Linfoma. Pediram outra biópsia aberta, que custou uma fortuna, mas a mesma não deu os resultados finais, porque os médicos não sabiam o que estava errado, nem mesmo com os resultados nas mãos. Jocely, por conta própria, não queria de jeito nenhum retornar ao médico. Foi se recuperando devagar, mesmo tendo uma tosse que a incomodava, não queria mais ir a médicos e até hoje está tentando viver dentro da medida do possivel. Rejeita a consulta de um médico, além do mais, tem uma doença chamada GOTA que a deixou com algumas deformações nos ossos, aparentes nos dedos dos pés, das mãos e braços. Quando tem as crises sente muitas dores e tem muitas limitações especialmente com movimentos e alimentação. A sua qualidade de vida reduziu-se pela metade.

Nessa época, Jocely e a mãe foram morar na nossa casa no Sitio do Conde, pertinho da praia, pois lá o clima é muito bom, os peixes do mar são saudáveis e, de acordo com o IMETRO, a água do mar de lá tem 0 (zero) por cento de poluição.

Depois de ter ido ao Brasil nesse ano de 2010 por duas vezes, com as tonturas que não me davam tréguas, lutava contra isso e tentava dar o melhor de mim. Voei de volta à Finlândia mas, antes do meu vôo para Londres, fiquei dois dias em São Paulo, com meu filho. No mesmo ano, em setembro, devido a mais uma tragédia na familia, retornei ao Brasil.

Ricardo, em São Paulo

Aproveitando uns dias em São Paulo..

Duas semanas depois do meu retorno a Finlândia, na última semana de junho, estava dormindo, não um sono profundo, mas um sono agitado. Nessa noite tinha deixado o computador ligado e por volta das duas da manhã, ouvi um barulhinho como se fosse uma mensagem chegando. Levantei-me e abri a mensagem que dizia: - Dona Maria José, dizia uma amiga da minha sobrinha Maria Antonia. - Sua irmã Regina acabou de falecer!! Em choque, percebi que meu marido já estava ao meu lado, também lendo a mensagem. Meu Deus!! não podia ser verdade, aquilo não podia ser comigo!! a minha irmã mais nova que tanto amava, saudável, com três filhos adolescentes, o mais novo tinha apenas 13 anos. Uma irmã que praticamente cuidei como minha própria filha, pois quando mamãe faleceu ela veio para minha companhia, aquilo era muito doloroso!! Doia-me os olhos, a cabeça rodava, o coração batia fortemente, não acreditava! Aos prantos com o coração doendo, telefonei para o Brasil ainda na esperança daquilo ser uma brincadeira. Fazia apenas alguns dias que tinha saido do Brasil e deixei-a bem. Infelizmente aquilo era verdade, mais uma tragédia na nossa família. Lembro que no dia do meu retorno á Finlandia, a minha amiga Madalena Góes foi me buscar no Conde para o meu embarque e ela, Regina, que morava em outra cidade, no caminho para Salvador, pedia-me que desviasse um pouco a rota e entrasse na cidade chamada Porto de Sauípe e fóssemos à sua casa para almoçar com ela. Quase me implorou, queria me ver, despedir-se de mim e não tinha condição de ir até o aeroporto. Eu, por minha vez, fiquei com vergonha de pedi para a minha amiga, achando que iria incomodá-la, mas na verdade sei que ela iria com boa vontade. Que tristeza, que dor imensurável!!

Regina era uma guerreira, batalhadora, no início do seu casamento comprei um apartamento para ela morar com o marido dando-lhes todo o apoio, levada pelo amor que sentia por ela, porque o marido não trabalhava, vivia na sombra dela, um verdadeiro zero à esquerda. Ela que lutava para criar os filhos. Depois soube que o cunhado, dizendo-se cardiologista, ciente que ela tinha problemas cardíacos, nunca se mobilizou para ajudá-la, sabendo que ela não tinha plano de saúde e nem recursos para se tratar. Quanta maldade!!.

Regina tinha uma pequena pousada e trabalhava muito para criar os filhos. Nesse dia, estava fazendo o café da manhã dos poucos hóspedes que ali existia quando sentiu-se mal.

O marido ficou na pousada e ela seguiu de táxi para a cidade chamada Camaçari com a filha mais velha. Lá chegando no Hospital do SUS, o médico deu-lhe um remédio e foi-se, só Deus sabe para onde. Ela, minha irmã, a cada minuto que passava ficava pior e tinha dificuldades para respirar. A filha, por três ou quatro vezes, foi procurar o médico para fazer algo pela mãe. Na última vez que foi chamá-lo, ele, com muita má vontade, acompanhou a filha para o lugar em que a mãe estava deitada. Lá chegando, a filha visualizou a mãe quieta e isso animou-a, achando que a mãe tinha se acalmado. No entanto, vinha vindo uma enfermeira em sua direção e com a maior frieza, disse-lhe: por favor, assine esse papel porque é o atestado de óbito da sua mãe! A filha adolescente, em choque, virou-se e deu um murro no rosto do médico que na verdade, negligenciou e não ligou para o estado da paciente. A minha sobrinha entrou em pânico e quebrou com o próprio braço os vidros que separavam o quarto de outros compartimentos. Entendo perfeitamente a reação dela, porque não sabemos a dor que ela estava sentindo e cada um de nós, reagimos de maneiras diferentes. Quanta maldade e frieza desses profissionais, que se dizem a favor da vida!! Um médico de verdade percebe quando uma paciente está enfartada, ou enfartando. O pior é que animais iguais a esses, existem aos montes nos hospitais do Brasil.

Minha saudosa irmâ, Regina...
Fiquei no Brasil alguns meses pois a familia precisava do meu apoio e eu literalmente, precisava do apoio dela também. No Natal e ano Novo, meu marido, Anapaula, Yusef e Adriana foram passar comigo. As minhas filhas e neto retornaram um mês depois e o meu marido ficou ainda um mês fazendo-me companhia, retornando sozinho em início de fevereiro de 2011. Dois dias antes de sua partida para a Finlândia, já tarde da noite, sentia muito calor e não conseguia dormir. Resolveu então ir para varanda por volta das duas da manhã e deitou-se na rede. Não lembra quanto tempo dormiu, sendo acordado com a rede balançando e, assustado, viu um homem de estatura mediana, usando um chapéu de couro, roupas rústicas de quem trabalha em agricultura. Jouko ficou assustado, porque nunca tinha visto nada igual, levantou-se da rede a fim de segurar aquele homem que havia invadido nossa propriedade. Como estava ali se os portões estavam trancados? Em segundos, o homem já estava perto do portão da saída. Jouko, mais que depressa, tentou segurá-lo mais uma vez, mas o homem sumiu. Como isso aconteceu? Jouko tentava entender e coordenar as idéias, um homem como meu marido que viajou o mundo inteiro, sempre destemido, voltou para dentro de casa assustado. Não conseguiu dormi novamente.

No dia seguinte, arrumando a sua mala, sentia que ele estava muito calado e por nenhum momento, mencionou o ocorrido na noite anterior. Fiquei sabendo desse episódio, quando retornei à Finlândia, alguns meses depois. Ele não quis me dizer para me poupar de ficar com medo. A sobrinha dele que é Psicanalista, disse-lhe que talvez fosse um anjo que estava ali para avisá-lo do perigo que corria com a porta aberta aquela hora da noite. Poderia estar suscetível a um assalto. – Tina, dizia ele para a sobrinha, "anjo não assusta", até hoje esse ocorrido é um enigma para nós.

Uma semana depois que ele retornou à Finlandia, achei muito estranho que ele não entrava em contato comigo no skype, como era de costume, há 3 dias. Falei com Adriana e ela disse-me que tudo estava bem, talvez tivesse problema com o computador, não acreditei e ela acabou por me contar o que houve com ele. Estava internado em razão de uma infecção violenta que adquiriu na perna esquerda. A minha filha disse:

- Minha mãe, dois dias depois que ele chegou do Brasil, não conseguia também falar com ele e isso era muito estranho porque nos falávamos todos os dias. Tinha uma intuição que algo estava errado e resolvi, então, ligar para a ambulância e pedir para os paramédicos irem checar na sua casa se havia algo errado com meu pai. Na Finlândia, os médicos são autorizados a abrir a porta em casos como esses, caso a pessoa esteja sozinha e não atenda o telefone nem a porta. Ao abrirem a porta do quarto, ele estava sem forças nem para alcançar o telefone e pedir socorro.

Já no hospital, os médicos, sem entenderem o porquê daquela infecção e daquela febre que não baixava, achavam que ele havia contraído malária, pelo fato de ter estado no Brasil. Finalmente, descobriram que essa infecção foi causada por uma bactéria vinda do lixo que frequentemente ele me ajudava a limpar na frente da nossa casa. A infecção foi tão forte, que lhe davam injeções de antibióticos na barriga. Permaneceu quase uma semana no hospital e quando retornou para casa, falou-me toda história e eu assustei-me com a perda de peso que teve.

Quando estava no Sítio do Conde, todos os dias íamos limpar o lixo que os veranistas, especialmente de Alagoinhas, que sem nenhuma educação e respeito pelos outros, jogavam bem em frente da minha porta e para completar, os corruptos, que administram a cidade de Conde, não faziam a coleta do lixo porque o dinheiro usado para isso teria que sobrar para os bolsos deles. Esse critério, é um câncer, que entra prefeito e sai prefeito e a pouca vergonha continua e o povo ainda aplaude de pé!! Quanto ao meu marido, que nasceu e vive em um país limpo, transparente, não estava acostumado com essa sujeira. Apenas quis ajudar a tirar a sujeira em frente da nossa casa.

Hoje, quando vou ao Brasil, infelizmente sempre encontro a mesma pouca vergonha, mas luto e pago para pessoas manterem a área limpa.

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