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Thursday, August 1, 2013

O LANÇAMENTO DE MEU LIVRO

 

Retornamos de nossa viagem à Grécia e, como já estava finalizando o relato de minha história, comecei, através de e-mails, a procurar uma editora em Salvador a fim de publicar meu livro. Depois de uma dezena de telefonemas e e-mails, encontrei uma que me agradou pela conversa que tive com a proprietária. Acertados todos os detalhes, marquei meu võo para o Brasil no meio de outubro de 2005. Como sempre, fiquei três dias em Londres passeando, visitando os amigos que tenho por lá. Meu marido, por telefone, havia acertado com uma locadora um carro por tempo indeterminado. Dessa vez, a locadora era confiável, o gerente era conhecido, e essa era a terceira vez que locávamos com eles. No aeroporto de Salvador em um domingo, ao meio-dia, lá estava o gerente, que fez questão de entregar o carro e cumprimentar-me. Minhas sobrinhas e amigas também me esperavam. Chegando ao Conde, mais uma vez, minha irmã, em sua cadeira de rodas, estava na área do jardim à minha espera. Nós nos abraçamos demoradamente, e as lágrimas teimavam em rolar pelas nossas faces tomadas pela emoção. Como era gostoso abraçá-la! Talvez não pelo tempo, mas pela distância que nos separava. No dia seguinte, retornei a Salvador indo direto para a Editora porque estava ansiosa para fazer a edição de meu livro. Havia esperado onze longos anos por esse momento. Tudo acertado, retornei ao Conde para curtir aquela praia maravilhosa, as caminhadas, os banhos de mar, minha casa e meus entes queridos. A Editora havia prometido entregar-me o livro na primeira semana de janeiro de 2006. Durante os meses de novembro e dezembro, estava muito ocupada com os preparativos para a festa de lançamento. Confecção de convites, banners, procura pelo local da festa, enfim, queria tudo certinho como mandava o figurino. Já chegando o final de dezembro, a Editora telefonou-me e avisou-me que não seria possível entregar os livros no início de janeiro como havia prometido. A sorte é que eu não havia marcado a data do lançamento ainda. Fui várias vezes à Editora, em Salvador, perguntando sempre se precisavam de ajuda. Eles me falavam que não era necessário, pois a correção estava sendo feita em outro local e, se fosse preciso, avisar-me-iam por telefone.

O Natal estava chegando e, como sempre, tentei dar alguma coisa para as pessoas carentes. Comprei vinte e duas cestas contendo alimentos, como cereais, biscoitos, frango, café, chocolate, panetone e até uma garrafa de vinho. No dia da entrega, meu destino era uma vila de pescadores que ficava a 7 km de minha casa, chamada Poças. Aluguei uma Kombi e, junto com o motorista e Ida Janine, minha sobrinha-neta e afilhada, dirigimo-nos para lá. 

Sabia exatamente as famílias às quais iria presentear. Moravam em cabanas de palha de coqueiro. Essas famílias não tinham menos que três filhos. Quando comecei a distribuição, por volta das 13 horas, na véspera do Natal, não acreditei na quantidade de pessoas que se aproximava. Fiquei preocupada, pois só havia vinte e duas cestas. O que faria com aquela multidão faminta? Depois de iniciada a distribuição, olhei para o carro, e só havia mais uma cesta. Bem em minha frente, uma senhora, com três crianças pequeninas, e um homem, com a idade bem avançada, só com uma perna, segurando-se em uma muleta. Que dúvida senti! A qual dos dois daria a cesta? Ambos estavam necessitados. Optei por dar para a senhora com as crianças. A mesma disse que, até aquele horário, nem café da manhã elas haviam tomado. Acabada a distribuição, voltei para casa. Que administração cruel dessa cidade! Nem no Natal os governantes tinham coragem de ajudar aquelas pessoas que deram seu voto para colocá-los no poder. Pela tarde, reuni algumas crianças que moravam perto de minha casa e distribuí alguns brinquedos. Com esse gesto, passei meu Natal mais alegre junto a meus familiares.

Povoado de Poças - Conde/BA (Foto crédito: Fotuskbca blog)

Poças (Foto crédito: Fotuskbca blog)

Casas de palha no povoado de Poças, Conde/BA (Foto: Ascom – Prefeitura do Conde)

Finalmente, na última semana de janeiro, ficou acertado que os livros estariam prontos no dia 20 de fevereiro. Desde o mês de dezembro, já havia pagado setenta e cinco por cento do trabalho deles. Começaram todos os preparativos para a festa de lançamento, que seria no dia vinte e um de fevereiro, semana do carnaval. Depois do carnaval, seria o começo das aulas, os veranistas estariam indo embora, e muitas dessas pessoas, que moravam em outra cidade, eram amigos, e eu queria que eles participassem da festa. 

Faltava apenas uma semana para o lançamento, que seria no Conde. Já com tudo quase pronto, convites distribuídos, a Editora telefonou-me para ir a Salvador buscar o texto para que eu o aprovasse. Fiquei surpresa, pois nem havia pensado que seria necessário fazer isso. Achava que a história seria entregue a mim com o texto adequado como havíamos combinado quase quatro meses antes. Imediatamente, depois do telefonema, como louca, peguei o carro e saí para Salvador. Teria que dirigir 200 km até lá. Passei toda à tarde, à noite e o outro dia, até o meio-dia, lendo o que eles escreveram. Eram mais de duzentas páginas. Retornei à Editora e saí de lá com a promessa de buscar os livros no dia vinte de fevereiro. Procurei a prefeitura do Conde, pois sabia que eu era a única filha da cidade que havia escrito e estava prestes a publicar um livro, principalmente uma história como a minha. 

A idéia era pedir ajuda à Prefeitura para a festa de lançamento. O prefeito prometeu pagar a iluminação, filmagens e o local, que seria o ginásio da cidade, o Centro Integrado de Educação do Conde (CIEC). Infelizmente, acabei conseguindo apenas o local. Filmagens, decoração, bebidas, comidas, bufê e outras despesas foram pagas por mim. Até a promessa de uma viatura da Polícia Militar para nossa segurança terminou não sendo cumprida. Foi muito embaraçoso porque, para essa cidade, deslocou-se um casal de Salvador, sogro e sogra de um deputado. Ele era irmão de um senador da República e ocupava um cargo alto na Assembleia Legislativa. Chegaram à frente do local totalmente às escuras, sem nenhum tipo de segurança na porta como o prefeito havia me prometido. Eles entraram no salão que, por sinal, estava muito bem decorado, com uma mesa de vidro expondo todos os objetos que adquiri nos quatro cantos do mundo e mesas ornadas com canapés variados e iguarias vindas da Finlândia. Quando entrei, junto com meu marido, esse casal estava em pé, no salão, e os vereadores e outras autoridades, exceto o prefeito, que não compareceu, não deram nenhuma importância ao casal acima citado. Eu e Jouko, completamente embaraçados, pedimos que os mesmos fossem sentar-se à mesa reservada para eles. Como os dois não tomavam bebida alcoólica, pediram para o garçom uma água de coco, água normal ou refrigerante. Em choque, ouvi da voz do garçom que haviam se esquecido de trazer essas bebidas porque estavam sendo geladas em outro lugar. Não acreditava no que estava ouvindo. Havia pagado tão caro pelo bufê, e essa gafe não podia estar acontecendo. O casal que, no dia seguinte, estaria embarcando para Milão, na Itália, às 6 horas, pediu desculpas, retirou-se e seguiu viagem de volta a Salvador. Fiquei muito triste com tudo isso, principalmente porque eram pessoas de uma idade já avançada, e sabia que foram prestigiar-me por gostarem muito de mim e de Jouko. Tentei esquecer esse incidente durante a festa, que foi muito bonita. Mesmo esperando em torno de trezentas pessoas, só compareceram cerca de cem. Sei perfeitamente que essas pessoas, inclusive outros casais de Salvador, foram porque gostavam de mim de verdade. Provavelmente, esse prefeito não teve a idéia de que, como moro em um país da União Europeia, poderia, com esse livro, levar o nome da cidade do Conde para lá, com a chance até de dar um pouco de incentivo para o turismo local. Alguns amigos surpreenderam-me quando foram ao microfone e falaram coisas bonitas sobre mim. Fui homenageada pela vice-prefeita, que foi minha professora no passado, cujas palavras encheram-me de emoção e trouxeram-me lágrimas aos olhos. Disse-me:

– Maria José, você aprendeu a se interiorizar, a destilar sabedoria em todas as situações da vida, aprendendo a agregar idéias, a pensar com liberdade, a gerenciar com maturidade os pensamentos e as emoções.

Finalmente o momento tão esperado! Olhei para meu marido, extremamente emocionada, e agradeci tudo, tudo que havia feito por mim, meus filhos e minha família. Disse-lhe que queria ainda viver muito e que, mesmo assim, esse muito era pouco para amá-lo e agradecer-lhe por tudo de bom que havia me dado. Olhei em seus olhos e falei em finlandês:

– Kulta, minä rakastan sinua (Querido, eu te amo).

As lágrimas escorriam por seu rosto, e, extremamente emocionado, falou-me que também me amava muito. Nessa hora, todos levantaram e aplaudiram.

Depois, dei-me conta de que esse prefeito e outras pessoas que torceram o nariz quando souberam da publicação de meu livro não fizeram nenhuma falta em minha festa. Infelizmente não podemos agradar a todos. Àquelas pessoas que lá estiveram, queria mandar um abraço caloroso e um beijo no coração. Posteriormente, fiquei sabendo que algumas pessoas que adquiriram exemplares na festa de lançamento viviam emprestando para outras, o que me fez deduzir que pelo menos metade da cidade já leu o livro.


FOTOS DE LANÇAMENTO DO MEU LIVRO "TRILHA DA SAUDADE", NO CIEC, EM CONDE-BAHIA

Texto-convite que foi publicado num site do Conde
























Não houve tempo para pensar nessa festa, pois, em poucos dias, estaria realizando outro lançamento na Livraria Siciliano, no Shopping Iguatemi, em Salvador. Dessa vez, tudo saiu perfeito. No dia anterior, o Correio da Bahia divulgou uma nota sobre o evento. Ainda pela tarde, dirigindo nas ruas de Salvador, uma rádio ligou-me e dei uma entrevista ao vivo. No dia seguinte, pela manhã, dei entrevista em outra rádio, e uma TV de Salvador falou sobre o evento que ocorreria à noite. Ao meio-dia, outra TV convidou-me para uma entrevista. Apesar da correria e de muito trabalho, tudo saiu como planejei. O casal que citei sobre o fiasco do Conde já havia retornado da Europa e foi o primeiro a chegar. De imediato, agradeceram as orquídeas enviadas por mim e meu marido junto com pedidos de desculpas pelo ocorrido na primeira festa de lançamento no Conde. Em seguida, chegaram o cônsul honorário da Finlândia e sua esposa, um deputado, um jornalista da National Geographic, um grupo de turistas da Finlândia que coincidentemente encontrava-se em Salvador, meus amigos, muitos de minha família e outros convidados. Desde o primeiro lançamento, havia contratado uma assessora de imprensa que providenciou toda a divulgação. Duas moças vestiam trajes típicos: uma estava caracterizada de um Orixá; outra vestia trajes típicos da Finlândia. As mesmas recebiam as pessoas e distribuíam uma poesia feita exclusivamente para mim. 

LANÇAMENTO NA LIVRARIA SICILIANO - IGUATEMI - SALVADOR/BA









Era o dia do aniversário de Castro Alves e Dia Nacional da Poesia, catorze de março. Mas ainda não havia terminado minha maratona porque, alguns dias depois, estaria fazendo um terceiro lançamento na Universidade Estadual de Feira de Santana com direto a uma hora de palestra.

Toda essa correria terminou por afetar minha saúde novamente. O estresse das viagens de carro pelas estradas que percorri para Aracaju, Alagoinhas, Feira de Santana, Esplanada e Salvador para colocar os livros nas livrarias deixou-me fisicamente fragilizada. Tive que parar porque as tonturas voltaram mais fortes, precisando ficar internada por causa disso. O pior era que queria retornar para casa, na Finlândia, já sensibilizada pelas saudades que sentia de meus filhos e de meu marido, que já havia voltado para a Finlândia. Mas como enfrentar uma viagem que duraria mais de vinte e cinco horas entre voos e conexões? Foi aí que meu marido teve a feliz ideia de pedir à empresa aérea um acompanhamento especial. Mesmo deitada nos voos e nas salas VIP dos aeroportos, confesso que foi um martírio administrar esse retorno por causa das tonturas. Foi um alívio chegar a casa e ter, a meu lado, meu marido. Com ele, sentia-me totalmente protegida.

Recorte de jornal finlandês, onde foi publicado a notícia do lançamento do meu livro, falando sobre a minha história.

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