Retornei a Helsinki, e, em duas semanas, estaríamos voando para o Canadá para que Jouko trabalhasse por onze meses em um novo projeto. Tínhamos dado entrada em nosso visto de permanência no País, mas, na data marcada, o meu não ficou pronto, e Jouko teve que viajar sozinho. Alguns dias depois, já com meu visto, finalmente fui encontrar-me com ele. Decolei de Helsinki para Frankfurt, esperei algumas horas no aeroporto e voei para Vancouver, de onde, segundo Jouko, teria que me deslocar para outro aeroporto. Desembarquei em Vancouver depois de catorze horas de voo. Tomei um táxi e segui para o outro aeroporto que, para minha surpresa, era muito pequeno. Percebi, então, que teria que voar em um avião pequeno, coisa que sempre evitei, pois sentia medo. Parecia que não tinha outra opção já que teria que cruzar uma baía para chegar até Powell River, cidade onde Jouko estava trabalhando. No avião: – Boa tarde, senhoras e senhores. Sou o piloto desta aeronave. Cruzaremos a baía em trinta e cinco minutos. Tenham todos uma boa viagem. – dizia um jovem de aproximadamente vinte e sete anos, que usava calça jeans, camiseta, boné e brinco na orelha esquerda.
O avião era tão pequeno que oito passageiros, incluindo eu, ocuparam todos os assentos. Quando decolamos, tenho que admitir que estava morrendo de medo. Atrás da poltrona da frente, encontrei um folheto com instruções sobre o voo e, para minha surpresa, constatei que o pequeno avião era de fabricação brasileira, de uma grande empresa instalada em São José dos Campos, a Embraer. Procurei relaxar e apreciar a vista da baía absolutamente fantástica. Quando menos esperava, já estávamos pousando.
Powell River é uma cidade localizada na "Sunshine Coast", costa oeste do Canadá. Ela é mágica na sua beleza e no calor do seu povo.
Jouko estava à minha espera no pequeno aeroporto de Powell River. Ele tinha um carro chamado Lumina, da Chevrolet, novo, muito confortável e espaçoso, típico carro americano.
Pequeno aeroporto da cidade de Powell River (Foto by Tristan Nano via flickr)
A cidade era muito bonita, limpa, com muito verde. Fomos direto para o hotel, muito confortável, onde tínhamos um quarto bem espaçoso. Lá também havia academia de ginástica muito bem aparelhada, sauna, piscina, e eu, para matar o tempo, comecei a fazer musculação.
Todos os dias, eu acordava às oito horas, tomava apenas um cafezinho, trocava de roupa, fazia exercício por mais ou menos uma hora e nadava um pouco na piscina. Depois de tanto esforço físico, pegava uma latinha de refrigerante na máquina do corredor e, finalmente, ia para o restaurante e desfrutava do café da manhã do hotel.
Quando Jouko retornava do trabalho à noite, saíamos para jantar fora ou no restaurante do hotel, mas, às vezes, pedíamos a comida em nosso quarto. Em uma dessas vezes, estávamos no quarto comendo uma comida deliciosa quando, em um dado momento, Jouko parou de comer e olhou com espanto para o prato. Havia um pedaço de chiclete usado em sua comida. Imaginei que alguém da cozinha o tivesse deixado cair da boca sem querer. Fizemos a reclamação, e o gerente veio direto ao nosso quarto pedir mil desculpas pelo incidente e falou que qualquer coisa que quiséssemos poderíamos pedir sem pagar, mas nós não solicitamos nada. Apesar do acontecido, sabíamos que, pela qualidade e requinte do hotel, aquilo tinha sido um acidente.
Na semana seguinte, fomos morar em um resort próximo ao mar. Tínhamos um apartamento grande, com quarto, banheiro, sala de jantar e uma cozinha moderna, muito bem equipada. Adorei a ideia porque eu mesma poderia fazer nossa comida. Nosso chalé tinha vista para o mar. Às vezes, acordava e ficava apreciando aquele azul celeste do Oceano Pacífico. Em uma dessas vezes, fiquei sem fôlego quando vi passar um bando de golfinhos nadando em sintonia como se dançassem balé. Lógico que, a partir daquele dia, comecei a prestar mais atenção no mar e consegui ver este espetáculo outras vezes.
Vejam que beleza a dança dos golfinhos (nesse vídeo acima)
Nos supermercados, eu encontrava de tudo: carne de primeiríssima qualidade, frango e peru frescos, frutos do mar e uma grande variedade de legumes e frutas. Jouko passou a ir todos os dias almoçar comigo, e o jantar, às vezes, eu mesma preparava, em outras, íamos jantar fora ou no próprio restaurante do resort. Gostávamos muito de ir a um local que ficava na beira do lago para comer caranguejo do Alasca. Por conta disso, comecei novamente a ginástica, desta vez, para perder calorias, e contratei um personal trainer. A cada dia, sentia que aqueles exercícios faziam bem para mim, principalmente a musculação.
Que delícia! Carangueijo do Alaska (Foto by Guilherme Barci via flickr)
Resolvemos conhecer Victoria, a antiga capital de British Columbia. Saímos bem cedo e atravessamos a baía de ferry boat, com o carro, para chegarmos à Ilha de Vancouver. A travessia foi fantástica. Era um lindo dia de sol, o mar estava calmo, e me emocionei ao ver os golfinhos nos acompanhando. Chegamos finalmente à Ilha. Começamos nossa viagem para Victoria atravessando a primeira cidade chamada Comox, uma das mais lindas que visitei até hoje. Jouko dirigia com toda a serenidade, sua marca registrada. Ouvíamos música clássica, que fazia jus àquela paisagem belíssima. Ao meio-dia, paramos em um restaurante ao lado da estrada. Fiquei impressionada com sua boa qualidade. Seguimos, depois, nossa viagem, parando algumas vezes para tirar fotos e apreciar a paisagem maravilhosa daquela estrada cercada de pinheiros. Depois de quatro horas, chegamos ao nosso destino.
Em Victoria
Parlamento de Victoria - Canadá
The Empress hotel, Victoria (Foto by Paul Mannix via flickr)
Butchart Gardens, Victoria - Canadá (Foto by Bernard Mowbray via flickr)
Butchart Gardens, Victoria - Canadá (Foto by Bernard Mowbray via flickr)
Ficamos hospedados no Hotel Laurel Point, localizado próximo ao mar, isto é, projetado para o mar, por isso, do quarto, tínhamos a impressão de estarmos em cima da água com uma vista lindíssima. Depois de termos feito sauna e tomado um banho de piscina, saímos de charrete para conhecer a cidade e jantar em um restaurante onde eram servidos frutos do mar. Na volta, sentamos no piano-bar do hotel para tomar o drinque de boas-vindas, onde desfrutamos de uma boa música. No dia seguinte, depois de um esplêndido café da manhã, fomos passear pela cidade, visitar os pontos turísticos e comprar as camisetas de lá, que são de ótima qualidade. Andamos de charrete e planejamos tomar um barco para ver as baleias orcas, mas fiquei com medo porque o tempo não estava bom. Fomos de carro, então, conhecer os arredores da cidade. Visitamos a marina, almoçamos em um restaurante onde era servido um bom filé, depois fomos para uma casa que servia cafés do mundo inteiro. Os grãos ficavam em recipientes de vidro na vitrine e eram moídos na hora. A bebida era bem fresquinha. Escolhemos um feito com grãos brasileiros.
Vista do hotel Laurel Point - varanda (Foto by Authentik Canada via flickr)
Olha quem veio nos observar tomar o café da manhã....uma gaivota!
Carruagens de diversos tipos, para passeios em Victoria - Canadá (Foto by Lou Feltz via flickr)
Wharf Street, Victoria BC. (foto by Lotus Johnson via flickr)
Inner Harbor, Victoria - Canadá (Marina). Foto by Cromely via flickr
Retornamos a Powell River depois de seis maravilhosos dias, de termos passado a noite em um ótimo hotel em Comox e apreciado, na travessia de barco, o pôr do sol com os montes nevados ao fundo e o bando de golfinhos que nos acompanhava.
Travessia com lindo pôr do sol...(Foto by ISO metrix via flickr)
Eu passava os dias me exercitando, fazendo longas caminhadas e deliciosos almoços para Jouko, além de visitar as amigas que fiz. Na casa de uma delas, esposa do superintendente da empresa com a qual Jouko estava desenvolvendo o projeto, reuníamo-nos uma vez por semana para fazer a leitura da Bíblia. Esses encontros eram ótimos porque eu conhecia muitas pessoas interessantes. Também eram servidos chás, cafés, bolos e doces. Enquanto conversávamos, em uma dessas vezes, ouvi um depoimento de uma das senhoras, que havia perdido o único filho, de vinte e nove anos, piloto desses pequenos aviões que cruzavam a baía, na queda da aeronave que ele pilotava. Ela carregava a foto dele na medalha que usava ao pescoço. Segundo ela, a religião estava ajudando-a bastante a suportar essa tragédia.
Algumas semanas depois, em um feriado prolongado, fomos passar quatro dias em Vancouver. Saímos de Powell River bem cedo de carro para o primeiro porto. Dirigimos por uma hora, tomamos o barco, atravessamos um primeiro estreito em duas horas e, já do outro lado, seguimos por mais três horas até o segundo estreito, tomamos o segundo navio para fazer a travessia, que demorou duas horas, e, finalmente, dirigimos por mais uma hora e meia até chegar a Vancouver.
A paisagem dessa viagem era indescritível. A estrada era montanhosa do lado esquerdo, com pinheiros altos, e, do lado direito, víamos o Oceano Pacífico. Chegamos a Vancouver ao entardecer. Atravessamos a cidade, que era um luxo de limpeza e organização no trânsito, com arquitetura moderna, muitos jardins e uma vista magnífica para a Cordilheira do Rock Mountain.
Fomos para o Hotel Metropolitan, no centro da cidade, onde tivemos o drinque de boas-vindas no bar e depois saímos para jantar. No dia seguinte, acordamos cedo e fomos visitar os pontos turísticos da cidade e fazer mais compras. Como eu estava indo para o Brasil no final do ano, aproveitei e comprei mais camisetas para levar de presente para meus amigos e minha família. Fomos visitar o famoso World Trade Center, uma construção arrojada, inaugurada pela Princesa de Gales em 1986. No outro dia, retornamos para Powell River e, na viagem de volta, dentro do navio, encontramos um casal dos Estados Unidos. O homem era engenheiro de uma empresa americana que participava do mesmo projeto de Jouko. Convidamos esse casal para nossa mesa. A esposa do engenheiro surpreendeu-se ao saber que eu era brasileira e falou-me que era difícil acreditar porque ela achava que todos os brasileiros eram negros. Dei-lhe uma lição mandando que voltasse para a escola a fim de atualizar-se. Disse-lhe também que racismo, no Brasil, era crime.
No dia trinta de outubro, Halloween, acordamos em clima de festa, pois o hotel encontrava-se todo enfeitado com abóboras decoradas por todos os lados, com as moças da recepção vestidas de bruxas e um bufê especial para a comemoração. Era a primeira vez em minha vida que participava desse tipo de evento.
festa de Halloween
Na véspera de minha viagem de volta à Finlândia, minhas amigas fizeram uma festa de despedida com direito a presentes, pois o Natal já se aproximava. Sentia-me um pouco triste porque Jouko não havia ainda terminado o projeto e tive que retornar sozinha já que deveria estar no Brasil até o dia dezenove de dezembro, pois minha sobrinha, filha de minha irmã que tinha sido assassinada misteriosamente alguns anos antes, iria casar-se.
Festa de despedida em Powell River, feita por amigas..
Parabéns pelo blog.
ReplyDeleteObrigada Carlos Santos. Sao ao todo 61 posts e espero que gostes dos outros tambem!!
Deletelindo texto e belas imagens, parabéns!
ReplyDeleteObrigada Henrique rick. O meu apreco!!
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