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Wednesday, July 10, 2013

NA ESTRADA COM JOUKO

Como mencionei antes, Jouko não estava presente no casamento de Anapaula por ter permanecido na Indonésia negociando um projeto que acabou começando no final de setembro. Decolamos de Helsinki para Frankfurt e, de lá, tomaríamos um voo da Lufhansa para Cingapura com escala em Bangkok. Em Frankfurt, tivemos que esperar quase quatro horas, mas essas esperas não eram problema para nós porque esperávamos na sala vip.

Foto by Through Violets eyes via flickr

Dessa vez, a rota havia sido trocada em razão dos conflitos existentes no Paquistão e no Afeganistão. A rota anterior tornava mais curta a duração do vôo de Helsinki para Bangkok.

Quando saí da Finlândia, já estava um pouco resfriada e, por esse motivo, não conseguia respirar direito durante o voo. Meu marido teve a excelente idéia de pedir para a comissária uma bacia cheia de água quente. Comecei a aspirar ao vapor, e o alívio foi imediato.

No aeroporto de Cingapura, tomamos um vôo para Surabaya, uma cidade na Ilha de Java, na Indonésia. Na entrada do avião da Singapore Airline, recebemos, como boas-vindas, um pequenino buquê de orquídeas para colocar na lapela e, depois de estarmos acomodados em nossos assentos, uma taça de champanhe francês Don Perignon. A viagem teve duração de três horas. Fiquei encantada com o tratamento por parte das comissárias de bordo. No almoço, tivemos como entrada rocambole de alcachofra com recheio de camarões, como prato principal, frango à moda tailandesa e uma bandeja de frutas típicas como sobremesa.

Em nossa chegada, estava à nossa espera uma pessoa do hotel em que íamos nos hospedar, devidamente uniformizada, segurando uma placa com nossos nomes.

No hotel, ainda no check in, recebemos novamente um pequeno buquê de orquídeas e um drinque de boas-vindas. Como íamos permanecer naquele local por mais do que quatro meses, fomos acomodados no vigésimo terceiro andar, em um apartamento com uma sala grande e confortável, dormitório, banheiro e uma cozinha equipada. A decoração era de muito bom gosto, com lindos quadros nas paredes, combinando com os sofás e tapetes. Ao abrir as cortinas da sala ou do quarto, ficava sem fôlego ao me deparar com a vista para um vulcão adormecido e uma linda vegetação com plantações de arroz.

Surabaya é a segunda maior cidade da Indonésia, a capital da província do leste de Java e está situada na boca do rio Brantas, tendo sido oficialmente fundada em l293. Lá, existe um dos maiores jardins zoológicos da Ásia. Segundo a lenda, o nome Surabaya é em razão da batalha entre um sura e um baya, isto é, entre um crocodilo e um tubarão. É conhecida como a cidade dos heróis. O ponto mais alto da Indonésia fica perto deste local, na Ilha de Java, e tem 5030 metros.

Centro de Surabaya (Foto by deka via skyscrapercity)

Surabaya Landmark (Foto via skyscrapercity)

Kalimas River at Night (Foto via skyscrapercity)


Surabaya Chinatown (Foto via wikimedia)

Temple of heaven - kenjeran park  (Foto via skyscrapercity)

Isto é uma becak...existem diferentes tipos de becak na Indonésia, quase toda cidade tem seu próprio estilo. (foto by Harry Purwanto via flickr)

Cheng Hoo Mosque (Mesquita), Construída para aliar culturas Islâmicas, Javanesa e Chinesa - Foto by Ifa Mukrifah


Interior da Mesquita Cheng Hoo (Foto by East Java Tourism Indonesia via flickr)



Budda Four Faces Statue (significa: quatro faces da Divindade que traz quatro filosofias proveniente de Buda que são da paciência, liberalidade, justiça (imparcialidade) e meditação. O significado da filosofia budista é apresentar afeto de ser companheiro, ajudar quem quer que seja sem discriminação e dedicar-se em um ritual de oração. Nas oito mãos do Buda há o livro sagrado, água benta, arma de defesa, arma de luta contra a maldade, rosários, peito e "cupu"). Foto by East Java tourismo Indonesia via flickr

Foto by East Java Tourism Indonesia

CIPUTRA WATERPARK - SURABAYA -Parque Aquático - The Biggest Water Park in Indonesia (Foto by East Java Tourism Indonesia via flickr)



Foto via skyscrapercity by urbana fotografica on flickr
Fotos de Surabaya Zoológico (hosted on flickr)
Outra Mesquita (Al-Akbar Mosque)

Bamboo Monument -  Bambo Runcing é ícone da cidade de Sorabaya sem contar que é o monumento do herói. Runcing Bamboo é uma arma tradicional usada pelo exército indonésio na luta contra o colonialismo holandês. Foto by East Java Tourism Indonesia

Um Mercado Tradicional em Pandugo, Surabaya (Não só os legumes e produtos lácteos, mas também roupas, acessórios, sapatos, sandálias e utensílios de cozinha (frigideiras, espátulas etc) são vendidos lá. Foto via Josephine Antonia via flickr.

O Hotel Mercure, onde estávamos hospedados, pertencia a uma rede francesa. Tinha academia de ginástica, área de lazer com duas piscinas, quadra de tênis, sauna, dois restaurantes, bar e sala para conferências. Um hotel desta mesma rede está instalado em Costa do Sauípe, no litoral norte da Bahia.



Quando subimos para o apartamento, encontramos uma cesta de frutas tropicais da região, uma corbelha de flores frescas na mesa de centro da sala e duas menores nas mesinhas de cabeceira do quarto. À noite, descemos para jantar. Além da decoração belíssima do restaurante, havia um bufê bem variado e uma programação para cada dia da semana: na segunda-feira, comida mexicana; na terça, francesa; na quarta; tailandesa; na quinta, italiana; na sexta, da Alemanha e Escandinávia; no sábado, churrasco à beira da piscina, servindo, além da carne, peixe, camarões e até milho verde assado. No domingo, serviam comida chinesa. Ainda havia, todos os dias, uma mesa separada com sushis por causa dos japoneses que moravam neste hotel. A empresa que havia comprado o projeto de Jouko era japonesa. Os garçons vestiam, a cada dia, roupas típicas de cada país, e a orquestra tocava suas músicas características.



O café da manhã era fantástico, com uma variedade de pães, bolos, frutas tropicais e sucos naturais de frutas típicas locais como alguns tipos de mamão, durian – uma fruta da região, muito parecida com nossa jaca – e mangas, as mais doces que havia comido até então. Serviam também camarões fritos, frango e arroz porque os asiáticos comem, pela manhã, como nós, brasileiros, comemos no almoço. O chefe da cozinha estava sempre pronto para preparar na hora o que o hóspede quisesse e não estivesse servido no bufê. Eu não almoçava porque, depois de um café da manhã desses, era impossível ter apetite ao meio-dia. À tarde, comia frutas à vontade até a hora do jantar. O bar era bem divertido, pois era o local em que encontrávamos todos os estrangeiros que lá viviam: franceses, alemães, ingleses e finlandeses. Havia sempre uma pessoa tocando músicas internacionais e locais ao piano. O hotel oferecia mensalmente um coquetel para os residentes, ou melhor, para as pessoas que ficavam hospedadas por muito tempo. Era um coquetel regado a bebidas e boa comida. O gerente era australiano, e o chefe de cozinha, francês, falava um pouco de português e disse-me que havia trabalhado no Club Méditerrané, na Ilha de Itaparica, na Bahia.

Comecei a me exercitar na academia do hotel, mesmo com a insistência das tonturas e dores de cabeça. Resolvi consultar o médico do hotel, ele me pediu uma bateria de exames, inclusive uma radiografia do pescoço. Os resultados foram bons, mas a radiografia apontou o problema que eu já tinha antes. Fui encaminhada para um ortopedista, que me receitou analgésicos, anti-inflamatórios e fisioterapia.

Tinha, nesta cidade, um carro à minha disposição para levar-me para onde eu quisesse. Para isso, era necessário que eu avisasse com meia hora de antecedência. Em uma dessas vezes em que saí de carro, estava chovendo muito forte e, na volta ao hotel, a chuva ainda continuava. Eu fiquei muito nervosa porque estava tudo alagado. O motorista falou:

– Por favor, senhora, ali tem um lugar mais seco. Gostaria que descesse do carro e fosse para lá.

Tenho que admitir que tive medo. Eu estava com Diana, que me ajudou a sair da água. Dessa vez, alguns carros foram arrastados, mas não houve vítimas. Diana era a chefe do restaurante do hotel, que havia se tornado minha amiga, e, em suas folgas, íamos para o shopping center porque nem todo mundo falava inglês, e ela fazia as traduções para mim.

Os dias passavam-se, e procurava me distrair o máximo que podia. Aprendia mais sobre aquele povo, que tinha um sorriso largo e sincero, no qual eu via uma disciplina interior muito grande. Além de nos ouvir com muita atenção, sempre eram solícitos, amáveis, tinham uma facilidade incrível de sorrir, e eu nunca os via chateados.

Depois de duas semanas morando no hotel, já era amiga de todos, desde os recepcionistas até os rapazes que tomavam conta das toalhas da piscina. Durante todo o tempo em que lá estava, não me lembro de ter chamado um elevador ou aberto uma porta, pois havia sempre uma pessoa para fazer isso. No restaurante, era a mesma coisa. Havia sempre um garçom pronto para puxar a cadeira ou abrir o grande guardanapo de linho e pô-lo em meu colo, procedimento este inédito para mim.

Às vezes, quando estava indisposta, pedia o café da manhã no apartamento e nem era preciso dar detalhes do que queria para me alimentar porque os funcionários já sabiam. Chegava a meu quarto suco de laranja natural sem açúcar e sem gelo, ovos cozidos em três minutos, queijo branco e pão sem lactose. Tudo era perfeito.

Todas as vezes que um rapaz levava os arranjos de flores para meu apartamento, dava-lhe de gorjeta dez mil rúpias, algo em torno de um dólar, quantia grande para eles. Percebia que, a cada dia, os arranjos vinham mais bonitos e com mais frequência.

Certa vez, estava conversando com Diana e convidei-a para subir a meu apartamento e tomar um chá. Ela me disse que não podia, mesmo estando de folga, porque eu era hóspede e ela, funcionária. Eram as normas do hotel. Ela também falou que as outras esposas dos engenheiros estrangeiros que lá viviam mal olhavam para ela ou para qualquer outro funcionário e, às vezes, nem respondiam aos cumprimentos. Comigo era diferente porque eu mantinha um bom relacionamento com os funcionários, por isso, quando chegava ao restaurante ou a outro local do hotel, era recebida com muita alegria, principalmente pelas funcionárias, as quais eu sempre abraçava e beijava. Disse-lhe, então, que nunca discriminava uma pessoa desde que fosse íntegra. Com esse comportamento, ao longo de minha vida, só tenho ganhado amigos, mesmo que de vez em quando me depare com alguns mal-agradecidos. Não importa. Sou o que sou e não quero mudar, principalmente quando estou em um país estranho, longe de minha família. É necessário que se tente viver em um ambiente de amor, carinho e harmonia.

Em Surabaya, existiam ruas inteiras com lojas de tecidos, principalmente seda pura, provenientes da China, Japão e Paquistão. Havia também muitos alfaiates e costureiras. Fui com Diana à casa de uma delas, e surpreendeu-me o fato de a mesma fazer as roupas para uma marca famosa da Europa. Depois retornei à mesma costureira e fiz alguns vestidos de festa, blusas e conjuntos.


Lojas de tecidos (Fotos acima by Demotrix)
Costureiras (Foto by Kars Alfrink via flickr)

Durante esse tempo, falava com minha irmã no Brasil de vez em quando. Sentia uma saudade terrível dela. Conversava também quase todos os dias com Adriana, que já estava grávida do primeiro filho. Como ia ser avó pela primeira vez, curtia muito aquela gravidez, mesmo de longe. Andava de loja em loja, procurando coisas para bebê e comprava coisas lindas, de ótima qualidade.

Em outubro, houve a festa do Melbourne Cup, uma competição de cavalos que acontece anualmente em Melbourne, Austrália. Como o gerente do hotel era australiano, eles celebravam esse evento com um almoço, música ao vivo e um concurso de chapéus das senhoras residentes no hotel. No dia do almoço, o bufê estava uma maravilha! Havia comidas típicas da Indonésia e da Austrália, como carne de canguru e de jacaré, tortas e doces de macadâmia, fruta típica da Austrália. Houve prêmios para os chapéus: o mais original, o mais engraçado e o mais elegante. O primeiro prêmio era uma viagem de uma semana para Paris com acompanhante. O segundo, um tapete persa no valor de dois mil dólares, e o terceiro, uma semana na Ilha de Bali, também para duas pessoas. Os australianos que lá estavam eram muito animados. Não participei do concurso por não ter levado meus chapéus da Finlândia e não encontrei nada no shopping que achasse que fosse ganhar. Além do mais, queria registrar tudo com a filmadora. Jouko não compareceu por estar trabalhando. Mesmo sem competir, fui sorteda com um jantar para dois no Novotel, um hotel no centro da cidade. Os garçons e garçonetes vestiam roupas de cavaleiros e de amazonas respectivamente e davam um show com a dança Macarena.



Além desse evento, o hotel comemorava o dia de Haloween. O bufê estava maravilhoso, na beira da piscina, com os garçons e garçonetes vestidos e maquiados de Drácula, Corcunda de Notre Dame e outros personagens de terror. Nessa festa, também houve concurso do vestido mais bonito. Dessa vez, ganhei um quadro de um artista local por causa de meu vestido de crepe de seda vermelho bordado com pedras. Usava também uma echarpe que combinava com o vestido, sapatos e carteira pretos.

A Indonésia é um país onde noventa por cento das pessoas têm o islamismo como religião, e dez por cento são budistas, cristãos e hindus. A maioria das mulheres cobre-se dos pés à cabeça. O impressionante é que, quando o trabalho exige, elas trocam suas roupas pelo uniforme, como é o caso das meninas que trabalhavam em nosso hotel. Esse país tem o maior arquipélago do mundo, com dezessete mil ilhas, sendo seis mil inabitadas. Sua capital é Jakarta, e a população beira os duzentos e quarenta milhões de pessoas. Não é muito diferente do Brasil: problemas sociais e pobreza convivendo lado a lado com a riqueza e a corrupção. Também como o Brasil, é um país muito grande. Lá são faladas mais de cem línguas e dialetos. A cidade onde estávamos morando era uma das muitas da Ilha de Java, com grande desenvolvimento, bons hotéis, shopping centers, restaurantes, muitas praças e jardins. O prédio de nosso hotel tinha uma construção moderna, e podíamos ver, de nossa janela, um dos vulcões ali existentes. Esse era o único hotel no qual havia me hospedado que tinha as roupas de cama trocadas todos os dias. Em um hotel da mesma categoria na Inglaterra ou Suécia, essa troca é feita apenas três vezes por semana. Também se arrumava o quarto e trocavam-se as toalhas de banho duas vezes ao dia.

Cobrindo o corpo com estilo - Surabaya Style (Foto demotrix)

Numa noite, saímos para jantar em um restaurante chamado Angus, localizado na cobertura do Trade Center. Confesso que fiquei sem fôlego quando lá chegamos. A iluminação era de tochas, as mesas, trabalhadas em madeira pesada, os assentos, grandes almofadões forrados com seda pura. Os garçons vestiam túnicas combinando com os almofadões e, com tochas nas mãos, vieram nos receber com os drinques de boas-vindas, uma combinação de champanhe com frutas silvestres. O requinte e o luxo desse lugar eram indescritíveis: arranjos de flores naturais saindo do chão até o teto e iluminação de tochas, fazendo com que aquele ambiente parecesse mais o cenário de As mil e uma noites. A entrada era um prato de frutos do mar com molho próprio do restaurante, ornado com orquídeas pequeninas de várias cores. O prato principal era um baby beef com verduras cortadas artesanalmente em miniatura. Enquanto comíamos, tínhamos um garçom em cada canto da mesa segurando uma tocha. Depois que terminei de comer, fiquei admirando a borda do prato de porcelana finíssima com desenho de rosas douradas que, para minha surpresa, era feito de ouro em pó. Não tenho nenhuma ideia do preço desse jantar porque o mesmo foi pago pela empresa em que Jouko trabalhava, aliás, não somente esse, como todos os outros.

Angus Restaurante  (Foto via wikimapia)

World Trade Center de Surabaya, Indonésia (Foto by Bambang Setiawan via flickr)

Assim passava os meus dias na Indonésia, até que Jouko me disse:

– Maria, o projeto ficará pronto antes do prazo previsto, e que tal se, antes de retornarmos à Finlândia, fôssemos para a Ilha de Bali por duas semanas?

– Sim, acho uma boa ideia, e você aproveita para descansar. – respondi.

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