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Friday, July 12, 2013

NOSSA VIAGEM PARA A ILHA DE BALI

A agência de turismo pertencente ao hotel em que estávamos morando encarregou-se de fazer nosso pacote, incluindo voo, acomodação e passeios. Mostrou-nos uma lista imensa com nomes de hotéis, e foi um pouco difícil escolher um por haver uma quantidade grande deles naquela ilha, incluindo o Hilton Bali, Sheraton, Le Meridien Nirwana, Ritz Carlton Bali e outros de nível internacional. Um casal de finlandeses aconselhou-nos que escolhêssemos o Hard Rock Cafe Bali porque haviam passado lá uma semana e gostaram muito. Decidimos seguir o conselho deles.

Nosso voo até Bali teve duração de trinta e cinco minutos. Ainda no aeroporto, fiquei admirada ao ver que todos os táxis ostentavam no teto, um lindo buquê de flores naturais. Isso era algo novo para nós. Estávamos em Denpasar, a capital da Ilha de Bali. 

Em nossa chegada ao hotel, fomos recebidos com um colar de flores e drinques de boas-vindas. As recepcionistas eram bem jovens e vestiam shorts, camisetas e bonés com o nome do hotel. Os rapazes que tomavam conta da bagagem também.

Uma das piscinas do Hard Rock Hotel

tobogãs na piscina...

Visão noturna da piscina

Junto às chaves do quarto, havia um cartão em que estava escrito: Room number of our stars, o que significa Número do quarto de nossas estrelas. Acho que, com essa atitude, o hotel queria agradar os hóspedes, fazendo com que se sentissem estrelas. A recepção era decorada com fotos das lendas do rock, como Jimmy Hendrix, Janis Joplin, Jim Morisson, Elvis Presley, além de guitarras e fotos dos Beatles. Já em nosso quarto, ficamos um pouco surpresos com os móveis: a cabeceira da cama era um desenho de uma grande guitarra, a banheira, em forma de violão, e o vaso sanitário, em formato de tambor. Havia também uma varanda cheia de plantas ornamentais e flores.

Desde que lá chegamos, percebi que Jouko estava um pouco desapontado, não pela qualidade do hotel, e, sim, pelo barulho. Na área de lazer, uma banda ao vivo tocava dia e noite.

Fomos conhecer a área de lazer. Realmente os finlandeses tinham razão ao nos falarem da beleza dessa área. Era impossível descrever com palavras. Não saberia precisar quantos mil metros quadrados de piscina e área verde havia lá. Rodeando as piscinas, além da área verde, cabanas equipadas com música, minibar e cama. Descendo dois degraus das cabanas que rodeavam as piscinas, estávamos dentro d’água. Podíamos ouvir música embaixo d’água, o que, para mim, era novidade. Essas cabanas eram alugadas a vinte e cinco dólares ao dia, e, nelas, podíamos dispor de massagista e outros serviços. No canto da cabana, havia um lindo arranjo de orquídeas, e a área da piscina que a rodeava era completamente destinada a quem a alugava.

Piscina do Hard Rock Hotel, vista de outro ângulo... (Foto by ckwp via flickr)

Hard Rock Hotel (Foto by Angela Chau via flickr)

Foto by m4sh.3D via flickr

O que mais me impressionou foi a praia que construíram entre as piscinas, com areia, coqueiros e cadeiras para tomar sol, além de uma banda de rock que ficava tocando. Havia pontes, templos com os deuses daquela cultura e inúmeras plantas ornamentais e flores, muitas flores por toda a área. Do outro lado da rua, na praia chamada Kuta Beach, uma das mais famosas entre os surfistas, podíamos apreciar a beleza das águas verde-piscina do Oceano Índico.

Kuta Beach (Foto by Setiadi Wicaksono via flickr)

À noite, deliciamo-nos com um churrasco à beira da piscina animado com música ao vivo. Dessa vez, não havia rock, e, sim, uma banda que tocava músicas internacionais, desde espanhola e italiana até a famosa lambada, que, apesar de ter sido criada na Bolívia, é a cara do Brasil. Tocavam também salsa, reggae e outros ritmos. Junto à nossa mesa, havia um grupo de japonesas que me pediram que as ensinasse a dançar samba. Jouko, sentado, tomava seu drinque e tudo filmava. Dessa vez me diverti para valer!

Apesar de toda a beleza do lugar, decidimos trocar de hotel por causa do barulho.

Pela manhã, depois do café, fizemos uma ligação para nossa agência de turismo a fim de saber se havia possibilidade de trocarmos de hotel. Teríamos apenas que pagar um pequeno valor e, à tarde, fomos para um hotel chamado Grand Mirage, no outro lado da Ilha, local chamado Nusa Dua, isto é, Duas Ilhas. Essa era uma área mais tranquila, onde existiam também ótimos hotéis, incluindo o Bali Hilton e outros. Em nossa chegada, mais emoções: na entrada do hotel, duas meninas, em torno de doze ou treze anos, vestidas com suas roupas típicas, deram-nos as boas-vindas com um lindo colar de flores. A emoção foi mais forte quando entramos em nosso quarto. Havia uma cama forrada com um lindo edredom, no qual estava um grande coração feito de flores naturais e, ao lado dele, escrito com flores: Welcome to our Hotel, Mr. and Mrs Rutanen, o que significa Bem-vindos ao nosso Hotel, Sr. e Sra. Rutanen. Esse quarto era bem espaçoso, como é típico nesses países asiáticos, com uma cama de casal muito grande, banheiro bem moderno e arranjos de flores também.

Grand Mirage Hotel - jardim interno (Foto by Paul Fuller via flickr)

Panorama do interior do hotel (Foto by Paul Fuller via flickr)

Foto by Paul Fuller via flickr

Tudo o que vi trouxe-me lágrimas aos olhos. A varanda de nosso apartamento era cheia de buganvílias de três cores. Havia uma mesa com quatro cadeiras, além de duas de descanso. Em nossa frente, descortinava-se o Oceano Índico com suas águas cristalinas.



Outra vista da  área da piscina do Grand Mirage Hotel (Foto by Paull Fuller via flickr)
Lobby do Grand Mirage Hotel

Um dos arranjos de flores naturais...

Praia particular do Grand Mirage Hotel

Bar no meio da piscina



Um dos  restaurantes

Os funcionários do Hotel sempre muito simpáticos e sorridentes (Todas as cinco fotos acima by Grande Mirage Hotel)

Da piscina, não sei precisar o tamanho. Sei que tinha ilhas com coqueiro, bar, pontes, uma enorme cachoeira e, em cima dela, jardins de fazer inveja a qualquer marajá. Entre a piscina e a praia, havia grandes amendoeiras e gramado verdinho. A praia era particular para os hóspedes. Havia vários tipos de esporte aquático: jet ski, windsurf, esqui aquático e muito outros. Na piscina, pedi um coco verde e fiquei surpresa quando o garçom colocou, além de uma orquídea ao lado, três gotinhas de groselha, segundo ele, para dar mais gosto à água, que já era naturalmente doce. Não gostei muito e, na vez seguinte, pedi natural.

À noite, descemos para jantar. O bufê não era muito diferente daqueles dos restaurantes anteriores, também tinha uma grande variedade de pratos, inclusive frutos do mar. Depois do jantar, fomos para o bar desfrutar de uma boa música ao vivo.

Buffet
No outro dia, às oito da manhã, descemos para o café, que também fazia jus à qualidade do hotel. Depois fomos caminhar na praia de areias brancas e águas mornas e cristalinas. Passamos o dia entre a piscina e o mar. À noite, sempre havia uma atração de encher os olhos.

Tinha uma espécie de ônibus aberto que, a cada meia hora, levava os hóspedes para conhecer aquele lugar místico e uma das áreas verdes mais bonitas que vi até hoje. Havia, perto do hotel, um centro comercial, ou melhor, um complexo de lojas que vendiam suvenires e artesanatos, incluindo as famosas cangas de Bali, camisetas e muitos outros.

No dia seguinte, fomos avisados de que, à noite, haveria uma atração especial, um show do Grupo Folclórico da Ilha de Bali, com direito a um bufê maravilhoso, digno dos deuses e dos bons garfos. Logo na entrada, recebemos sarongues[1] muito bonitos, com estampas dos diversos deuses locais, e uma flor para pôr no cabelo. Valia também para os homens. O difícil foi convencer Jouko a vestir aquela saia e colocar a flor atrás da orelha! Mas, como ele viu que todos os homens usavam, decidiu aceitar. O show era apresentado em frente a um templo, ao ar livre, onde havia mesas ornadas com arranjos de flores típicas. No bufê, havia uma mesa grande e, nela, um artista fazia esculturas dos deuses hindus em frutas. Esse procedimento fazia parte do show. As mesas das sobremesas não ficavam para trás, enfeitadas com enormes esculturas de gelo. Para cada mesa de comida, havia uma iluminação especial, como, por exemplo, em cima de uma delas, estava pendurado um leitão inteiro assado, com um jogo de luz refletido nele. A impressão que se tinha era de que estava sendo assado naquela hora.

Show folclórico (Foto Grand Mirage)

mesas em frente ao local do show (Foto Grand Mirage)

Como não gosto de tomar bebidas alcoólicas, pedi um coquetel de frutas servido dentro de um mamão e enfeitado com orquídeas e flores de lótus. Enquanto comíamos, um grupo de pessoas vestindo roupas típicas de seda azul estava sentado tocando seus instrumentos típicos. Logo depois, começou um show de encher os olhos. Acompanhamos atentos àquele espetáculo, composto de oito danças diferentes, cada uma contando uma história. Na abertura, um grupo de oito adolescentes vestindo roupas típicas entrou com cestas contendo pétalas de rosas e jogou-as ao chão onde os dançarinos iriam pisar. Os dançarinos vestiam roupas típicas de seda, usavam maquiagem especial e tinham, na cabeça, um arranjo dourado com pedras, parecendo a torre de um templo. O show teve duração de duas horas de pura emoção. No final, fomos convidados ao palco para tirar fotos com os artistas. Foi divertido ver meu marido vestindo sarongue e usando uma flor atrás da orelha. Ele entrou na brincadeira e divertiu-se bastante.



O Hotel Grand Mirage era muito bonito, situado em uma área verde de tirar o fôlego. Além do jardim de inverno ao lado da recepção, tinha como atração uma cachoeira. Em cada andar, havia uma estátua de alguns deuses, todos representados por figuras que pareciam monstros, como, por exemplo, Rama, um deus da mitologia hindu. De acordo com a cultura local, eles protegiam as pessoas que estavam hospedadas naqueles andares. Do lado do Grand Mirage, em meio a um jardim belíssimo, havia uma casa chamada Thalasso Bali, que pertencia ao hotel. Funcionava como um centro de saúde e beleza. Aromaterapia, massagem, banho de algas marinhas, tratamentos para a coluna e a pele, acompanhados por uma equipe de médicos, esteticistas, fisioterapeutas e massagistas. Quando fui informada sobre esse centro, não pude conter a alegria, era uma benção para minha coluna. À tarde, acertei que começaria, no dia seguinte, a aromaterapia, a massagem e banhos especiais para a pele. No terceiro dia de tratamento, já me sentia um pouco melhor, principalmente das tonturas. Teria mais uma semana pela frente. Nesse mesmo dia, estávamos almoçando em um restaurante quando, de repente, apareceu uma moça com um pratinho de comida ornado com flores em uma mão e, na outra, um frasco de perfume. Depositou o pratinho ao pé de uma grande árvore e começou a jogar pingos do perfume nela. Fiquei observando aquela cena e, com certa curiosidade, perguntei-lhe porque fazia aquilo. Disse-me, então, que era a dona daquele restaurante, e esse procedimento era para a árvore protegê-lo.



Thalasso Bali Spa

AQUI ESTÁ UM VÍDEO DO THALASSO BALI SPA




Sempre depois das caminhadas, tinha, junto com outras senhoras, ginástica na piscina acompanhada de um professor e uma boa música.

Existem, na Ilha de Bali, mais do que vinte mil templos, dos quais visitamos alguns.

Faltavam quatro dias para nosso retorno à Finlândia. Depois do café da manhã e da caminhada na praia, Jouko subiu para o quarto, e eu fiquei tomado sol nas cadeiras de descanso. Alguns minutos depois, ele voltou e disse-me que havia recebido um telefonema de uma agência de turismo, dizendo que tínhamos ganhado uma viagem para Perth, na Austrália. Achamos melhor ir até lá e verificar aquela história direito. Tomei um banho rápido, e pegamos um táxi para Denpasar, onde estava situada a agência. Lá chegando, descobrimos que, para termos essa viagem, teríamos que pagar uma quantia e esperar a disponibilidade dos voos e hotéis. Achamos melhor não pensar nessa viagem naquele momento porque a validade da mesma era de um ano.

Aproveitando que estávamos em Denpasar, fomos ao shopping comprar uma fita de vídeo para a filmadora. Na volta, entramos em uma rua com várias lojas de artesanato e coisas lindíssimas para decoração. O calor estava quase insuportável. Jouko pediu-me para voltarmos ao hotel. Disse-lhe que queria andar um pouco mais por estar vendo coisas bonitas e com bons preços. Paramos em um restaurante para almoçar e, ao lado, havia uma loja que vendia quadros lindíssimos. Terminei o almoço, fui até lá e comprei um quadro muito bonito. Quando voltei, Jouko continuava sentado, tomando cerveja. Mostrei-lhe o quadro que havia comprado e disse-lhe que, já que estávamos ali, iria até a loja do Hard Rock Cafe para comprar umas camisetas. A loja ficava dentro do hotel em que havíamos ficado anteriormente. Atravessamos a rua, tomamos um táxi e dirigimo-nos para a loja. Separei as camisetas e, quando tentei pagar, não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo! Minha carteira havia sumido, contendo todos os meus documentos, dois cartões de crédito, quatrocentos dólares e uma pulseira de ouro que havia guardado no dia anterior. Olhava para Jouko desesperada, procurando em todas as sacolas das compras anteriores. Jouko deu a ideia de retornarmos ao restaurante, talvez tivesse esquecido em cima da mesa, ou na loja ao lado. O difícil foi dizer ao motorista do táxi o nome da rua ou mesmo sua direção. O táxi rodou bastante, e não conseguimos acertar. Decidimos continuar a pé. O desespero tomava conta de nós. Estávamos muito preocupados com os cartões de crédito, pois sabíamos que, nesses locais com um fluxo grande de turistas, existiam profissionais que roubavam cartões e, na maioria das vezes, conseguiam sacar dinheiro no caixa automático. Esses cartões eram conjuntos com os de Jouko. A sorte foi que ele tinha um extra, independente de mim. O sol continuava escaldante. Finalmente vimos, em nossa direção, o restaurante. Para aumentar nosso desespero, não encontramos minha carteira nem lá, nem na loja ao lado. Onde procurar? Sabia que não tinha caído dentro do táxi porque não havia aberto a bolsa nele. O que mais me intrigava era a rapidez com que isso tinha acontecido. O que fazer? O jeito era procurar um telefone e ligar para a Finlândia cancelando os cartões, e a segunda providência seria nos dirigirmos à polícia para efetuar a queixa. Quando lá chegamos, tivemos que esperar devido à quantidade de turistas com os mesmos problemas. A queixa foi registrada e demos o nome do hotel em que estávamos hospedados para que, se encontrassem a carteira, ligassem imediatamente. Como os cartões de crédito já haviam sido cancelados, nossa preocupação agora seria reaver meus documentos brasileiros, como a carteira de identidade, o título de eleitor e a carteira de motorista, além de minha carteira de identidade finlandesa, carteira social para atendimentos médicos, carteira de motorista, cartões de bancos e cartões de milhagem de empresas aéreas. O dinheiro e a pulseira, eu sabia que seria difícil reaver, mas os documentos eram necessários. Minha maior sorte foi que meu passaporte estava em outra carteira. Fiquei muito chateada porque, depois de tantos anos viajando por várias partes do mundo, era a primeira vez que aquilo acontecia, e a maneira como aconteceu deixou-me muito intrigada. Informamos também ao hotel o ocorrido e pedimos que eles ficassem ligando para a polícia mantendo-nos informados. Um pouco mais tarde, a gerência do hotel mandou a meu quarto uma cesta de frutas e flores com um cartão dizendo que sentiam muito o acontecido e que, para qualquer coisa de que eu necessitasse, eles estariam ao meu inteiro dispor. Esse fato ocorreu em 1998, e, apesar dos esforços da polícia, meus documentos nunca foram encontrados. Tentei não deixar que esse ocorrido tirasse minha alegria de estar naquele lugar tão lindo. Procurei relaxar e curtir os últimos dias de viagem naquele lugar.

No dia seguinte, fomos visitar um monumento a Brahma na entrada de Denpasar, um deus guerreiro da mitologia hindu. Fiquei fascinada!

Cidade de Denpasar, Capital de Bali (Foto by Bali Hotels and Villas via flickr)

Foto via discover-indo blog


Bali anual Art Festival realizado em Denpasar (fotos via industantimes)
Bali é famosa por suas artes e religião Hindu, embutido no cotidiano de seu povo, juntamente com sua música, dança, escultura, pintura e tradições de teatro. Essas riquezas culturais estão em ampla exibição a cada ano no Festival anual Bali Artes, um evento que atrai visitantes de todo o mundo."O festival declara ao mundo que Bali é uma sociedade aberta e damos as boas vindas a todos com paz, harmonia e tolerância", diz o governador de Bali Sr.Made Mangku Pastika . O festival é importante não só para Bali, mas para a Indonésia em geral.

Ulun Danu Temple,  está localizado em Bedugul Village, Tabanan Regency, cerca de 62 km da cidade de Denpasar, o templo "of the Lake Goddes at Bratan" é um dos mais visitados e espiritualmente mais importante templo balinês de Bali. Este templo é dedicado a Dewi Danu, os deuses da água do Lago Bratan, O Templo foi fundado no século 17 e é foco de inúmeras cerimônias e peregrinações para garantir o abastecimento da água, o templo está situado nas margens do lago.  (Foto via discover-indo blog)

Chegou, então, o dia de nossa partida. Estava muito feliz por ter tido a oportunidade de conhecer aquele lugar tão lindo, cheio de mistérios. E, como dizem, Bali é a “ilha dos deuses” literalmente.

Decolamos para Cingapura e, depois de algumas horas esperando no aeroporto, voamos para Frankfurt. Durante o voo, sentia que minha tontura aumentava. Tinha que ficar deitada o tempo todo. Não entendia o motivo daquela tontura porque, com o tratamento no Thalasso Bali, havia melhorado bastante.

Na descida em Frankfurt, havia uma pessoa com uma cadeira de rodas à minha espera, requisitada ainda durante o voo. Fomos direto para a sala vip da Lufthansa.

Não conseguia ficar de pé direito e nem mesmo olhar para os lados porque minha cabeça rodava. Fui levada para o banheiro da sala vip. Talvez uma ducha quente me fizesse muito bem. A senhora da portaria do banheiro, além de dar-me uma toalha e um roupão, ajudou-me no banho e a secar meu cabelo. Depois de tomar um chá quente, fiquei deitada até a hora de nosso voo para Helsinki.

Chegando a minha casa, tentei descansar bastante e, no dia seguinte, já me encontrava bem melhor. No final da tarde, Jouko chegou da reunião que havia tido no trabalho e, para minha surpresa, disse-me que iríamos retornar, no dia seguinte, à noite, para a Indonésia. Não acreditava no que estava ouvindo:

– Jouko, fale novamente.

Dessa vez, ficaríamos lá em torno de dois meses.

Tentei descansar o quanto pude porque, com tantas viagens, tantas idas e vindas, meu tempo em casa tornava-se precioso. Às vezes, chegava a esquecer de determinadas coisas que tinha em meu lar, como sapatos, roupas, tolhas de banho e até roupas de cama e cosméticos. Certa vez, usei um blazer que estava esquecido no roupeiro e, para minha surpresa e alegria, encontrei uma boa quantia em dinheiro dentro de seu bolso.

No outro dia, pela manhã, fomos ao banco e recebemos novos cartões de crédito. Como tudo na Finlândia anda rápido, tive de volta, também, meus documentos finlandeses. Nosso seguro de viagem cobriu todos os prejuízos, inclusive acreditaram em mim e devolveram os quatrocentos dólares.

Dessa vez, nosso voo seria direto para Cingapura pela Finnair, empresa aérea finlandesa.

Em Cingapura, fomos para o hotel descansar. No outro dia, à tarde, decolamos para Surabaya, com destino ao mesmo hotel em que havíamos nos hospedado antes. Além do carro e da pessoa que estavam nos esperando no aeroporto, em nossa chegada ao hotel, fomos surpreendidos, na recepção, por todas as pessoas que trabalhavam lá, em fila, para dar-nos as boas-vindas com um lindo colar de flores. “Selamat datang Mr and Mrs. Rutanen!”, ou seja, “Bem-vindos, Sr e Sra. Rutanen!”, falavam em voz alta. A emoção foi muito forte. Fomos acomodados no mesmo apartamento de antes. Estávamos no começo de dezembro.

Sentia que eu não melhorava daquelas tonturas. Decidi, então, entrar em contato novamente com o Dr. Irwan, meu médico anterior. Ele me encaminhou novamente para a fisioterapia, e, dessa vez, tive dois tipos de tratamento a mais: tração e eletrodos para a musculatura do pescoço.

Na semana seguinte, como não havia melhorado, fui aconselhada, pelo mesmo médico, a tentar a acupuntura sem deixar a fisioterapia. Ele mesmo conseguiu uma especialista chinesa, e essas sessões eram feitas no próprio apartamento do hotel. As aplicações das agulhas em algumas regiões de meu corpo eram muito doloridas, como, por exemplo, na região da barriga. Às vezes, apareciam até hematomas.

Ainda durante essa temporada na Indonésia, ocorreu algo curioso. Uma vez, fui ao supermercado com Metty, uma garota que trabalhava no hotel. Na saída, um homem que estava na calçada abriu a porta do carro para mim. Chamou-me a atenção o seu sorriso, e imediatamente abri minha bolsa e dei-lhe vinte mil rúpias, pois percebi que esse era mais um pedinte. Quando ele recebeu o dinheiro, duas grandes lágrimas escorreram por seu rosto, e, quando olhei bem para ele, percebi, com muita tristeza, que não tinha uma perna. Ele pediu, em seu idioma, para a moça a qual estava comigo, dizer-me que ele nunca havia encontrado alguém que houvesse lhe dado tanto dinheiro, o equivalente a três dólares americanos, e que também ia rezar cinco vezes ao dia e pedir a Deus que devolvesse minha saúde. Até hoje, fico imaginando como ele sabia que eu estava doente, se a moça que estava comigo jurou que não havia falado nada.

Como falei antes, esse hotel tinha música ao vivo, com uma banda que tocava músicas internacionais. O que mais me emocionou foi quando, numa noite, eles tocaram Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Disseram-me que tinham aprendido especialmente para tocar para mim. Essas pequenas grandes coisas trazem para meu coração a felicidade de encontrar, em meu caminho, pessoas como essas.
Cerimônia de um casamento na religião hindu, na Ilha de Java, Indonésia

Estava chegando a semana do Natal, e comecei a comprar os presentes que daria aos funcionários do hotel, principalmente aos mais próximos, como as meninas do restaurante, da recepção e do bar. Para o pessoal da limpeza e da segurança, tive a ideia de dar cestas de Natal. Fui ao supermercado e disse para o gerente o que queria nessas cestas, que seriam em torno de dezessete, e acertamos também o preço.

O médico diretor do hospital militar em que eu fazia fisioterapia era muito gentil. Sempre tinha o cuidado de, todas as vezes que eu chegava para o tratamento, ficar comigo, pois os rapazes da fisioterapia não falavam inglês, e eu sentia a imensa alegria que ele tinha ao me ajudar. Alguns dias antes do Natal, convidamo-lo e sua esposa, ambos de origem chinesa, para jantarem conosco no hotel. Diana, a chefe do restaurante, encarregou-se de fazer uma mesa lindíssima para a ocasião. Foram colocados, na mesa, um lindo arranjo de orquídeas, dois candelabros com duas velas em cada um, copos de cristal e talheres de prata. As bandeiras do Brasil e da Indonésia ladeavam a mesa, e dois garçons foram destinados somente para nos servir. Ofereceram-nos drinques de frutas especiais sem álcool devido à religião do casal. Como a variedade da comida do bufê era grande, servimo-nos dela, inclusive da chinesa.

Na antevéspera do Natal, fui ao supermercado buscar as cestas. Fiquei muito contente porque eram muito sortidas. Na véspera, pela manhã, comecei, com uma lista de nomes na mão, a ligar para os funcionários do hotel, pedindo que viessem a meu apartamento buscar suas cestas. A alegria que via no rosto daquelas pessoas estava sendo, para mim, um dos melhores presentes que já havia ganhado. Estava ansiosa para entregar a cesta do rapaz da floricultura, que fazia arranjos maravilhosos para nosso apartamento. Quando liguei para a floricultura, fiquei sabendo que ele não iria trabalhar naquele dia, só depois do Natal. Não pude esconder meu desapontamento porque queria entregar-lhe o presente pessoalmente. Às sete da noite, estávamos preparando-nos para ir à ceia no restaurante do hotel quando alguém bateu à porta. Não estava esperando ninguém àquela hora, já havia entregado todas as cestas, menos a do florista. Quando abri a porta, fiquei muito surpresa e alegre ao vê-lo com um grande arranjo de flores em mãos. Então, disse-lhe que estava a sua procura e perguntei-lhe se o haviam avisado disso. Ele me disse que não sabia e que tinha ido ao meu quarto porque queria desejar-me um feliz Natal e trazer um pequeno presente que fizera especialmente para mim. Era uma casa de bambu em miniatura decorada com orquídeas e rosas. Para mim, isso foi mais que um presente, foi uma demonstração de que aquele homem simples e humilde pôde, através daquele gesto, mostrar a pureza de sua alma. Quando lhe entreguei sua cesta, vi as lágrimas de alegria escorrendo por seu rosto. Disse-me: “Terima kasih”, que significa “obrigado” em indonésio, acrescentando que seus filhos jamais haviam comido chocolates e biscoitos importados antes.

No restaurante, os garçons vestiam roupas de Papai Noel, e as garçonetes estavam vestidas de anjo. Havia poucos hóspedes na ceia porque, nessa época, as pessoas viajavam para passar com suas famílias as festas de fim de ano. Mesmo assim, o bufê continuava com a mesma fartura de sempre, além das comidas típicas do Natal. Nosso jantar foi maravilhoso, acompanhado de um bom vinho tinto francês e uma boa música.

Em nosso apartamento, às onze da manhã do dia vinte e cinco, tentávamos falar com nossos entes queridos na Finlândia e no Brasil. Havia uma diferença de horário de onze horas adiantadas em relação ao Brasil e seis em relação à Finlândia.

No outro dia, perguntei a Diana o que eles faziam com a comida do bufê depois que todos eram servidos. Para minha tristeza, fiquei sabendo que jogavam tudo fora. Não pensei duas vezes e marquei uma reunião com o gerente do hotel e o chefe da cozinha a fim de sensibilizá-los para que, em vez de jogarem toda aquela comida fora, aproveitassem-na, dando-a para as pessoas que necessitavam, principalmente para aqueles que lá trabalhavam e ganhavam tão pouco. Dominique, o chefe francês, respondeu-me que a ideia era maravilhosa, mas isso não dependia deles, mas da matriz da empresa na França. Prometeu-me que telefonaria e perguntaria sobre essa ideia. Não sei o resultado porque voltamos, dois dias depois, para a Finlândia.

Decolamos de Surabaya para Cingapura no dia vinte e oito de dezembro ao meio-dia. Em Cingapura, fomos direto para o hotel e, no dia seguinte à noite, partiríamos para a Finlândia. Queria ficar um pouco em Cingapura para comprar algumas coisas, pois era considerado um dos paraísos das compras. É uma cidade que, até algum tempo antes, estava em segundo lugar do mundo em desenvolvimento e limpeza, perdendo apenas para a Escandinávia. Lembro-me de que a multa era muito alta para quem jogasse lixo no chão. Nas ruas, em meio a jardins belíssimos, havia enormes cinzeiros e vasos de lixo. O resultado disso era uma cidade extremamente bela e limpa.

No hotel em que estávamos hospedados, havia muita tecnologia, até então novidade para mim, como o acionamento de um mecanismo de limpeza que liberava desinfetante no vaso sanitário quando se abria a porta do banheiro. Quando entrávamos no elevador, uma gravação dava-nos bom-dia e avisava o andar em que estávamos, mas isso já conhecia de outros hotéis.

Pela manhã, fui direto à Galeria Lafaiete comprar cosméticos e perfumes de marca francesa já que estavam em liquidação. A decoração do Natal estava de tirar o fôlego. O que mais me chamou a atenção foram as cascatas de luz caindo das varandas dos apartamentos de nosso hotel e dos arranha-céus existentes na Orchard Road, rua principal do centro de Cingapura e paraíso das compras.
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[1] Pedaço de tecido (geralmente de cinco a sete metros de comprimento) que é enrolado em volta do corpo e amarrado na cintura ou sobre o peito. Roupa tradicional das mulheres de Bali e do Taiti

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