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Wednesday, July 31, 2013

SENTINDO-ME SEGURA NA FINLÂNDIA

Era impressionante que, quando retornava do Brasil e encontrava minha família e meus amigos na Europa, sentia-me tão protegida, tão respeitada, como se tivesse passado de um planeta a outro, apesar do amor que sempre tive por minha família no Brasil e da alegria que sentia ao revê-los todos os anos. Mas, nesses últimos anos, estavam acontecendo coisas muito estranhas. Durante doze anos, eu tive um apartamento em Salvador, e tudo era perfeito. Viajava sempre à Bahia sem nenhum problema. Depois que vendi esse apartamento e comprei uma casa no Conde para ficar mais próxima de minha irmã gêmea, só tinha problemas quando regressava ao Brasil. Quem sabe um dia encontrarei alguma resposta? Mesmo assim, sabia que retornaria ao Conde para ficar ao lado de Joselita, pois nós sempre sentíamos muita falta uma da outra.

Já na Finlândia, recebia notícias de minha irmã, acompanhando diariamente sua situação. Joselita continuava sem andar, as dores aumentavam, e ela tomava uma quantidade enorme de remédios diariamente.

Quanto à agressão que nós duas sofremos por um homem louco e bêbado, fiquei sabendo que ele sequer havia sido chamado para depor mesmo depois de seis meses do ocorrido. Era impressionante e imoral o descaso das autoridades dessa cidade. A lei existe para punir criminosos, mas parecia que as autoridades do Sítio do Conde não sabiam disso. Passaram-se dois anos, e o processo ainda corria no Fórum do Conde sob a alegação de que esse indivíduo não tinha endereço fixo e nunca o encontravam. Não consigo entender, pois o mesmo não estava no exterior e vivia em Salvador.

O verão de 2005, na Finlândia, foi uma beleza, um pouco mais quente que o normal. Como morávamos a quase quatrocentos quilômetros de minhas filhas e neto, eles nos visitavam frequentemente. No dia 22 de junho, quando se comemora o MidSummer Day, na véspera de São João – que também é muito celebrado na Finlândia –, vieram nos visitar. Nesse dia, sempre podemos ver o amarelado no céu causado pelo pôr do sol. Mas, por não conseguir esconder-se, alguns minutos depois, o sol volta a brilhar como se fosse dia. É o que chamamos de Sol da Meia-Noite. Tem festa a noite inteira, normalmente com as famílias reunidas, apreciando essa beleza na beira do lago, tomando banho em suas águas, bebendo, comendo e fazendo sauna.

Sol da meia noite. 
Foto by Hansenit via flickr

Belíssimas paisagens do Sol da Meia Noite (Midnight Sun, in Finland) com fotos hosted on flickr

Midsummer (Foto by julukustavisuomi via flickr)

Celebração do Midsummer (Foto by Stefano Di Chiara via flickr)

Durante o verão, nos meses de maio, junho e meio de julho, a claridade é muito grande e quase não escurece na parte conhecida como Finlândia Central, mais ao norte de onde moramos. Em compensação, a partir do mês de outubro, cada dia fica mais escuro. O mês de novembro tem dias em que a claridade permanece só por duas horas.

Em minha volta à Finlândia, continuava caminhando quase todos os dias. Onde moro, há pistas próprias para caminhar, correr e até infraestrutura para fazer ginástica em um raio de mais de oito quilômetros. Tudo isso no meio da floresta, com vários tipos de pinheiros e de outras espécies de árvore e um lago logo abaixo. É uma paisagem de tirar o fôlego. A Finlândia possui mais do que sessenta mil lagos, cuja maioria se encontra na parte central do País, todos maravilhosos, com as águas azuis e límpidas. Quase todos os finlandeses possuem casa de verão, barcos e saunas na beira dos lagos. As saunas são a lenha, mais naturais e saudáveis, dando mais charme a essa estação. Após fazer sauna com uma temperatura muito elevada, as pessoas apreciam muito o banho nas águas frias. Na saída da água, a sensação de leveza e frescura é indescritível. Segundo me contaram, esse procedimento faz com que nosso organismo produza cortisona ajudando no rejuvenescimento. Provei, comprovei e adorei. A sensação é muito gostosa. Até hoje existem mulheres na Finlândia que concebem seus filhos dentro da sauna porque consideram um lugar extremamente limpo e esterilizado. Esse procedimento é uma tradição milenar.

Pequenas ilhas bo Sudoeste da Finlândia (Foto by Andrei Niemimäki via flickr)

Fazia um ano que Anapaula, minha filha mais velha, havia retornado do Brasil. Tinha feito, na Finlândia, um teste para um curso de bacharelado em Administração de Negócios com especialização em Comunicação, abrangendo um campo amplo, que engloba Comércio Exterior, Globalização, Leis da União Europeia e Idiomas. Estávamos muito ansiosos porque quatrocentas e oitenta pessoas haviam feito o teste, e as vagas eram limitadas. Mas eu tinha esperanças de que ela iria conseguir porque, além de falar fluentemente quatro idiomas, havia sido secretária bilíngue em uma multinacional e já tinha muita experiência. No dia do resultado, assim que ela viu seu nome na lista de aprovados pela internet, telefonou para nós explodindo de alegria. Havia sido classificada entre as dezoito pessoas selecionadas. Teria pela frente quatro anos e meio de curso. Além das quatro línguas que já dominava, teria que aprender mais duas no decorrer de dois anos. Se quisesse, poderia ainda incluir mais duas ou três. Ela achava que conseguiria, pois teria uma jornada de estudos de oito horas por dia contando com o apoio do governo finlandês. Também poderia escolher estudar por uma temporada em algum país-membro da União Europeia, como França, Inglaterra, Bélgica ou Alemanha.

E assim passávamos um ótimo verão. No mês de agosto, começou o Campeonato Mundial de Atletismo. Aprendi a gostar muito de esporte só de ver como meu marido gostava. Como Jouko já havia praticado esportes e até participado de competições quando era jovem, ele vibrava acompanhando os eventos esportivos. Durante toda a semana, víamos as competições pela televisão e, no final de semana, já com nossos ingressos em mãos, saíamos de casa bem cedo, pois estávamos a quase cinco horas de carro da capital, onde aconteciam as competições, para vê-las ao vivo e a cores. O estádio para onde íamos estava sempre superlotado. Houve a final dos quatrocentos metros em revezamento feminino, e o Brasil estava competindo, ficando em quarto lugar.



A última vez em que a Finlândia recebeu atletas do mundo inteiro para essa competição foi em l983, quando um atleta brasileiro deu um vexame em minha casa.

A Finlândia é um país que incentiva muito o esporte. Eles são os melhores do mundo em esqui (hiihto), salto em esqui (mäkihyppy), hóquei no gelo (icehockey), arremesso de dardo (jávelin) e, no autoesporte, são uns dos melhores, como no Ralli e na Fórmula 1.

Depois desse período, Jouko fez-me uma proposta:

– O que você acha de irmos passar uma semana na Grécia para comemorar nosso aniversário de casamento?

Eu, tomando meu café da manhã, olhei para meu marido com imensa ternura e respondi-lhe:

– Por que não? Essa é uma boa ideia.

Era a última semana de agosto, e a Finlândia não estava mais tão quente. E eu estava mesmo necessitando tomar um pouco de sol. Quase quatro meses haviam se passado desde minha chegada do Brasil, ainda estava muito quente na Grécia e, como já havia começado o período escolar, seria um pouco mais tranquilo por lá.

Dois dias depois de resolvermos viajar, saímos de casa à meia-noite e fomos para o aeroporto de Helsinki, pois nosso avião iria decolar às 6 horas e 30 minutos para a Ilha de Creta, na Grécia. Nosso destino era Hania, uma das cidades da Ilha de Creta. Para chegarmos lá, tivemos um voo de quase quatro horas tranquilo, mas, apesar disso, eu sentia muita tontura, ainda a velha história do problema de minha coluna. Algumas semanas antes, havia feito dez sessões de fisioterapia, porém parecia que não havia dado nenhum resultado. Na descida do avião, sem me importar com a tontura e olhando para baixo, fiquei deslumbrada com a vista maravilhosa das montanhas e o azul turquesa do Mar Mediterrâneo. Como estávamos em um voo charter, tínhamos um ônibus com uma guia finlandesa para levar-nos ao hotel. Queria chegar logo, tomar um banho quente e deitar-me um pouco na esperança de melhorar da tontura. Dentro do ônibus, com o ar condicionado ligado, sentia-me um pouco melhor, mas não podia sequer mexer minha cabeça. Foi uma pena porque a paisagem era belíssima, com uma variedade enorme de buganvílias floridas e com tons diversos. É impressionante como essa flor me fascina!
Ilha de Creta, Grécia (Foto by Nicola via flickr)
Hania waterfront (Foto by east med wanderer via flickr)

Vista típica de uma rua em Hania (Foto by Kate Allen via flickr)

Hania ou Chania, na Ilha de Creta (Foto by Aaron Geddes via flickr)
Uma Taverna, em Hania, com lindas Buganvílias (Foto by Aaron Geddes via flickr)

Outra rua, em Hania, Creta (Foto by Aaron Gueddwa via flickr)

Hotel Maleme Imperial (Foto by Jansq via flickr)
Vista em frente ao Hotel Maleme Imperial (Foto by Valtteri T. via flickr)
No Hotel Maleme Imperial

No hotel, antes de sairmos para irmos a um show folclórico

Fiquei ainda mais fascinada quando chegamos ao Hotel Maleme Imperial, com uma piscina imensa, de onde se via o indescritível azul do Mediterrâneo. Deram-nos um apartamento com uma sala grande, banheiro, dormitório e varanda com uma vista de encher os olhos. Os móveis, bastante requintados, ficavam ainda mais bonitos por estarem sobre o chão de mármore de Carrara. Depois, em um restaurante no centro da cidade, fiquei fascinada com o que via no teto, mas, sem entender direito, perguntei a Jouko:

– Querido, o que é isso?

– Isso são cachos de uva. – explicou-me.

Olha que lindo os cachos de uvas pendurados no teto, muito comum nos restaurantes da Grécia... 

Restaurante com parreiras ao ar livre (Foto by Sean O'Sullivan via flickr)
Estávamos jantando sob um teto coberto por parreiras cujos cachos caíam e, como havia um tipo de iluminação especial, isso dava ao ambiente um toque bem diferente e romântico. Esse não foi o único restaurante onde comemos. Fomos a outros que tinham a mesma decoração. Antes de fazermos o pedido de nossa comida, os restaurantes de lá ofereciam um drinque de boas-vindas chamado ouzo, cujo teor alcoólico era de 42%, e apresentava um gosto de anis. Também, ao final, ofereciam uma bandeja de frutas da qual a uva era peça obrigatória. Esse procedimento repetiu-se em todos os restaurantes que visitamos.




Harbor em Hania, Creta

Durante toda a semana, aproveitamos cada instante, tudo o que esse país oferecia. Além dos muitos passeios que fizemos, fiquei encantada com uma praia chamada Falasarna. Com palavras era difícil traduzir a beleza dessa praia, onde o azul celeste misturava-se ao azul piscina e turquesa da água do mar, muito cristalina. Naquelas águas não se viam pedras ou algas; na praia, somente areia branca e fofa. Fui informada de que o teor de salinidade das águas do Mar Mediterrâneo é em torno de 4%, semelhante ao do Oceano Atlântico. Também fiquei sabendo que o Oceano Pacífico, o maior do mundo, tem em torno de 3,5%, o mesmo teor do Oceano Índico. O Mar Morto é o mais salgado, com o teor de 25%, enquanto que o Mar Báltico, com suas águas muito geladas, possui um teor de salinidade na faixa de 1%.

Falasarna beach (Foto by Jose Télles via flickr)
Falasarna beach (Foto by David Cuni via flickr)
Praia da Falasarna


A Grécia é sempre um livro de páginas abertas o qual o leitor, fascinado, jamais se cansa de folhear. O passado estendia-se diante de nossos olhos, a história da humanidade estava cravada em cada pedra das ruínas dos palácios da Antiguidade.

No dia seguinte à nossa chegada, fomos visitar o Palácio de Knossos, na cidade de Heraklion, distante mais de trezentos quilômetros da cidade onde estávamos hospedados. Gostaria imensamente de ter palavras suficientes para descrever a beleza dessa estrada. De dentro do carro que havíamos alugado, eu não conseguia ver o topo das montanhas de tão altas que eram. O verde belíssimo das montanhas contrastava com o azul anil do Mar Mediterrâneo. Como sou muito emotiva, as lágrimas vinham a meus olhos frequentemente. O Palácio de Knossos tinha sido construído havia quase quatro mil anos e apresentava uma parte reconstruída e outra em ruínas. Acredita-se até que essa era uma reconstrução de outro palácio. Naquela região, viveu uma civilização chamada Minoa, considerada a mais antiga da Europa, ainda da Idade do Bronze.

FOTOS DO PALÁCIO DE KNOSSOS, NO MUSEU ARQUEOLÓGICO DE HERAKLION, ILHA DE CRETA - GRÉCIA

Palácio de Knossos, casa de banho (Foto by Fco-Javier Delgado via flickr)

Palácio de Knossos, folheto explicativo de sua história (Foto by Everton Prudêncio via flickr)

Palácio Knossos, parte reconstruída (Foto by verde-mar via flickr)

Afresco na parede "Prince of the Lilies", Palácio de Knossos (Foto by Antonio Penades via flickr)

O estado de conservação dessas ânforas é excelente! Ânfora = Vaso grande de duas asas, para líquidos, usado antigamente entre Gregos e Romanos. (Foto by MANEL ALMENDROS ALONSO via flickr)

Palácio de Knossos, ruínas (Foto by wontonsopabuena via flickr)

Eu, nas ruínas do Palácio de Knossos
Casas de banhos, Palácio de Knossos (Foto by Andrea via flickr)

Foto by Andrea via flickr

Afrescos (Foto by Xaquin via flickr)

Essa pintura "O Salto do Touro" é a reconstrução que nos permite imaginar a beleza e singularidade do palácio e suas paredes. É uma demonstração de agilidade acrobática praticada pelos Minoans.

Informação: a localização do labirinto da lenda tem sido uma questão para estudos minóicos. Poderia ter sido o nome do palácio ou de uma parte do palácio. Durante a maior parte do século 20, as insinuações de sacrifício humano no mito intrigou os estudiosos da Idade do Bronze, porque a evidência de sacrifício humano na ilha de Creta nunca tinha sido descoberto e por isso foi vigorosamente negado. A prática foi finalmente confirmada arqueologicamente (ver em civilização minóica). É possível que o palácio era um grande centro sacrificial e poderia ter sido chamado Labirinto. O esquema é certamente labiríntico, no sentido de que é complicado e confuso.
Palácio de Knossos, restos das três colunas (Foto by MANEL ALMENDROS ALONSO via flickr)
Em uma noite, fomos assistir a um show folclórico, acompanhado de um jantar delicioso com comidas típicas em uma cidade chamada Theresse localizada nas montanhas. A estrada era muito linda e também um pouco perigosa, pois, como subia pelas montanhas, às vezes mal dava para o próprio ônibus passar. Quando chegamos ao restaurante, senti imediatamente um frio terrível. Dei-me conta de que estávamos a mais de dois mil e quinhentos metros acima do nível do mar e, como era noite, logicamente sentia muito frio, principalmente porque eu vestia um vestido de alças. Vendo minha situação, o guia, mais do que depressa, emprestou-me sua jaqueta. Comemos mousaka, uma espécie de lasanha feita de batata, carne moída e outros ingredientes que dão um sabor exclusivo a esse prato. No final, fomos convidados a dançar com o pessoal do show, que tentava ensinar-nos a dança da música do filme Zorba, o Grego. Nós nos divertimos bastante. Adoramos!




A Grécia, com as inúmeras ilhas que compõem seu arquipélago, parece um paraíso, é digna de ter sido a morada de todos os deuses do Olimpo como a história nos conta. É realmente um país fantástico.

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