Minha sobrinha, filha de Joselita, havia se casado e, pouco mais de um ano depois que sua filha nasceu, seu marido a abandonou, fugindo da responsabilidade de sustentar a criança. Nós, nem de longe, imaginaríamos que o pai dessa criança tão linda, tão doce e meiga fosse ter uma atitude assim. Assumi, então, uma parte da responsabilidade, como, por exemplo, a moradia. O que ainda não consigo entender é por que a justiça nada fez para que ele pagasse por esse crime já que, segundo me informaram, as leis brasileiras são rigorosas com quem sonega pensão alimentícia. Foi feita uma queixa contra esse indivíduo, e a desculpa que a mãe da menina recebeu foi de que não sabiam do paradeiro do mesmo. Eu, pessoalmente, acho que seu irmão, que é advogado e, na época, trabalhava no Fórum, coincidentemente na Vara de Família, teve muito a ver com essa maracutaia.
Lembro-me também de quando essa menina estava para completar seus quinze anos e minha irmã procurou-me para que pudesse realizar a festa em minha casa, no Sítio do Conde, lugar com bastante espaço e um grande jardim. Não hesitei em dizer sim, ainda mais que eu já estava assumindo algumas despesas dessa criança. No dia da festa, durante as arrumações, havia muito movimento de pessoas entrando e saindo de minha casa, o que era perfeitamente natural em cidades menores como o Sítio do Conde. Eu estava almoçando tranquilamente quando, de repente, vi entrar em minha casa ninguém menos que o pai dessa menina, que a abandonara ainda recém-nascida e nunca havia assumido qualquer responsabilidade sobre ela. E o pior, ele estava com um sorriso de orelha a orelha, como se nada tivesse acontecido. Quem o teria convidado? Indignada, levantei-me da mesa e fui para meu quarto sem conseguir entender o que realmente estava se passando. Decidi não questionar nada para não estragar o dia da festa de quinze anos da neta de minha irmã. E as surpresas não terminaram por aí. Na hora da festa, quando os convidados estavam chegando, em um lugar reservado da casa, deparei-me com a família inteira desse pai omisso e criminoso: a avó, a mãe, seus irmãos, tios e sobrinhos. Por que aquelas pessoas estavam em minha casa? Eram pessoas que jamais fizeram parte de meu círculo de amizade e, pior, pessoas que já haviam demonstrado má índole. Mesmo a festa sendo da neta de minha irmã, era em minha casa. Eu deveria ter sido avisada de que eles haviam sido convidados. Mais uma vez calei-me por respeito à aniversariante. Quanta hipocrisia, quanta contradição! Não era essa mesma família que dizia não saber o paradeiro desse homem? E a menina continuava sem receber nenhum dinheiro de pensão por parte do pai. Eu realmente não entendi se a atitude dessas pessoas havia sido uma provocação. Posteriormente, fiquei sabendo que a própria menina havia convidado sua avó, a mãe do criminoso, que, provavelmente, achou-se no direito de levar a família toda e, pior ainda, o pai de minha sobrinha. Joselita falou-me que não sabia nada sobre isso, tendo sido uma surpresa para ela também.
Depois que minha irmã havia voltado ao Brasil, comecei, novamente, a viajar com Jouko, conhecendo lugares belíssimos, uma vez que meus filhos já estavam independentes de mim, ou melhor, além de terem almoço na escola, já sabiam se virar com comidas prontas e com o micro-ondas.
No mês de novembro do mesmo ano, retornei ao Brasil a fim de trocar de apartamento em razão de ter acordado, um pouco menos de um ano antes, com um tiroteio ao lado do prédio na última vez em que lá estive. O local do tiroteio era um terreno baldio, cheio de mato. Apesar de a rua ser boa, infelizmente ainda havia esse terreno sem construção. A polícia estava à procura de dois assaltantes, os quais haviam se escondido justamente nesse local. Houve tiroteio, e uma bala passou de raspão pela janela de meu quarto, onde eu dormia com Anapaula e Adriana. Para nós, foi um grande motivo de preocupação e nos fez acelerar a venda do apartamento.
Nosso apartamento em Salvador |
Procurei uma imobiliária, o que me deixou muito cansada, pois havia pessoas indo e vindo a toda hora para vê-lo. Nesse meio tempo, mandei buscar papai no Rio Grande do Sul porque eu já estava morrendo de saudades dele. Durante sua estadia em Salvador, era meu companheiro inseparável, íamos à praia, à feira para comprar frutas, verduras e peixes frescos. Papai sempre acordava bem cedo para comprar pão fresquinho na padaria Super Pão, que ficava perto de meu apartamento. Existiam muito carinho e ternura entre nós dois.
Uma vez fui à casa de minha irmã Regina, em Brotas, e retornei por volta das 23h. Já no caminho de volta, minha irmã Joselita ligou para Regina dizendo que eu deveria dar um tempinho para voltar para casa porque, ao lado do prédio, havia dois homens suspeitos. Mas era tarde demais, eu já havia saído. Ao me aproximar do prédio, percebi que minha irmã estava na janela gesticulando, pedindo para eu não parar, pois, se eu fosse abrir o portão, esses homens me pegariam. Como não sabia de nada, fiquei sem entender direito. Maria Antônia, minha sobrinha que estava comigo, percebeu imediatamente o que acontecia e pediu que seguisse adiante. No telefone público mais próximo, parei, liguei para casa e fiquei sabendo do ocorrido. Dirigi-me ao primeiro posto policial e avisei o que estava acontecendo. Os policiais foram para casa junto comigo e nada encontraram. Acredito que os suspeitos viram o carro da polícia e fugiram. Dessa vez, o susto foi grande porque tinha guardado em casa dinheiro e joias.
Depois de alguns dias, consegui vender o apartamento. O comprador me pagou uma parte em dólar americano e a outra parte, ou seja, sessenta por cento do valor, em cheque em moeda corrente brasileira que descontaria uma semana depois.
Passados três dias da realização da venda, estava assistindo ao Jornal Nacional na televisão quando ouvi, sem acreditar, que o dinheiro brasileiro havia sofrido uma desvalorização. Nessa brincadeira, como num passe de mágica, perdi mais do que vinte mil dólares. Foi um choque. Mesmo assim, comprei outro em uma rua melhor e em um andar mais alto.
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