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Friday, June 28, 2013

EM CASA, VOLTANDO À ROTINA

Copa de Juniores de Helsinki. Foto: helsinkicup

De volta à Finlândia, passei a viajar frequentemente com meu marido. Um dia, em casa, recebi um telefonema de um organizador de evento esportivo:

– Dona Maria José, quem está falando aqui é o organizador da Copa de Juniores de Helsinki. Gostaria de pedir, por gentileza, para a senhora receber em sua casa, se possível, quatro garotos brasileiros que vieram jogar na Copa. Houve uma falha, e está faltando lugar para acomodá-los.

– Não tem problema, senhor. Diga-me onde estão que irei buscá-los. – respondi prontamente.

Esses garotos ficaram em minha casa por uma semana. Dei-lhes todo o carinho, atenção e cuidados que se dão a um filho. No dia da viagem deles, eu mesma fui levá-los ao aeroporto. Em meu retorno para casa, fui à geladeira e, antes de abri-la, vi que havia um papel preso na porta assinado por eles:

“Senhora Maria José, comes o teu pão, bebes o teu vinho sossegada porque Deus já apreciou teus trabalhos. Jesus te ama.”

Em seguida, a assinatura deles. Para mim, esse foi o melhor agradecimento que poderia ter recebido.

Certo dia, meu filho Ricardo resolveu morar com sua namorada, que vivia com os pais. Fiquei um pouco indecisa porque ele tinha apenas dezesseis anos. Eu já havia tido outra experiência antes com a saída de Anapaula, que foi viver no apartamento dela com dezoito anos. Aqui na Finlândia, é normal os filhos saírem cedo de casa porque, a partir dos dezoito anos, o jovem passa a ter ajuda do Governo para estudar. Os pais da namorada de Ricardo moravam em uma casa muito grande e confortável. Fizeram do andar de baixo um verdadeiro ninho de amor para os dois, que tinham o mesmo objetivo, a música, e frequentavam a mesma escola e sala de aula. A atenção dada a ele era a mesma que concederiam se tivessem um filho. Ricardo continuava a ir a minha casa todos os dias, a ter a mesma atenção e o mesmo carinho de filho, mas eu sentia que faltava alguma coisa, principalmente quando via seu quarto vazio. Eles continuaram a viver juntos, a fazer sucesso juntos. Ela era soprano e uma das vozes mais bonitas que ouvi até hoje. Formaram-se e frequentaram o Conservatorium de Oulunkylä, uma academia de música.

Certa vez, fui me encontrar com Jouko na Indonésia, em razão de seus projetos na Ásia. Fiz o voo Helsinki-Bangkok-Singapura. Na aeronave, havia um painel eletrônico que nos dava todas as informações do voo. Decolamos de Helsinki, atravessamos todo o território russo, o Paquistão, o Afeganistão, a Índia e uma parte da China. Às 6h30min, depois de oito horas de voo, vi, no painel eletrônico da aeronave, que sobrevoávamos o Tibet e ouvi quando nosso comandante pediu que olhássemos para fora, do lado esquerdo. O que vi me deixou sem fôlego. Lá estava a Cordilheira do Himalaia e, o majestoso e inacreditavelmente lindo, Monte Everest, com os seus 8.850 metros de altura. Voávamos a mais ou menos dez mil metros de altura, e tínhamos a impressão de estar ao lado do Monte. Nesse momento, chorei emocionada porque senti que, junto com aqueles raios solares, refletindo naquela neve eterna, estava Deus. Costumo dizer que não escalei a Cordilheira dos Himalaias, mas ela tocou meu coração. Algumas horas depois, descemos em Bangkok para escala de uma hora. Tivemos mais duas horas e meia de voo até nosso destino.

Monte Everest

Meu marido estava me esperando no aeroporto em Singapura. Fiquei impressionada com a precisão do controle de passaportes e rapidez na retirada da bagagem. Também me encantou a beleza do aeroporto com seu magnífico orquidário ornado com uma variedade de orquídeas e pássaros. Esse aeroporto de Singapura é famoso porque é o único no mundo com um jardim ornado com muitas variedades de orquídeas, inclusive com aquelas chamadas de celebridades, que estão em extinção, as quais foram preservadas e estão dentro de invólucros de vidro. Na saída, encontrei-me com Jouko, e seguimos para o Hotel York, onde nos hospedamos em uma suíte finamente decorada e recebemos como boas-vindas uma corbelha de orquídeas. Ficamos quatro dias conhecendo a cidade, fazendo compras e desfrutando a comida deliciosa do bufê do hotel. Fui presenteada por meu marido com um colar e brincos de pérolas. Ele me levou à joalheria onde a gerente, extremamente simpática e solícita, ofereceu-nos uma taça de champanhe e levou-nos a uma salinha para que assistíssemos ao vídeo de como se cultivam essas pérolas no fundo do mar.



York Hotel - Singapura

Restaurante no centro de Singapura

Seguimos de navio para a Ilha de Batam, uma dessas ilhas paradisíacas no Oceano Índico. Lá, ficamos hospedados em um ótimo hotel, onde havia, ao lado da piscina, um magnífico templo hindu. Desfrutamos a beleza da Ilha e comemos, em um dos restaurantes, um siri cozido com folha de gengibre que até hoje não encontrei igual em nenhum lugar do mundo. Depois de quatro dias, seguimos para uma cidade na Ilha de Sumatra, ainda na Indonésia. Lá, a empresa japonesa com a qual Jouko estava trabalhando no projeto havia construído um condomínio fechado para hospedar os estrangeiros que ali ficavam desenvolvendo o projeto. Tivemos um apartamento que funcionava como hotel, com serviço de quarto, restaurante e área de lazer. No segundo dia, conheci uma brasileira de São Paulo, cujo marido trabalhava no mesmo projeto de Jouko. Achei ótimo porque, além de ter uma amiga, podia falar minha língua. Ela se chamava Célia e era muito alto-astral. Em um desses dias, estávamos andando juntas às 7h30min, quando Célia, de repente, disse: 

– Maria José, não se mova!

Eu não entendi seu apelo porque ela estava atrás de mim. Nisso, percebi alguma coisa mexendo-se em minha frente. Foi aí que me dei conta de que, a apenas meio metro de meu pescoço, havia uma cobra naja com o bote armado em minha direção. Nessa hora, percebi que estava correndo perigo e imediatamente segurei meu crucifixo de pedras que levava ao pescoço e pedi, de olhos fechados, com muita fé, que aquela cobra fosse embora. Depois de alguns segundos, abri os olhos e vi que ela havia desaparecido. Célia também tinha fechado os olhos de tanto medo que sentira, não vendo a cobra afastar-se. Como falei antes, esse era um condomínio fechado, construído no meio da floresta, isolado por imensas valas de água, justamente para evitar a passagem dos animais. O susto foi tão grande que comecei a sentir dores de cabeça e muita tontura. Liguei para meu marido, que estava no trabalho em uma fábrica, e ele mandou o motorista levar-me para um pequeno pronto-socorro destinado para casos de emergência. Quando lá cheguei, deparei-me, na entrada, com um homem bem pequeno que vestia um guarda-pó branco. Ele me falou em inglês:

– Mrs. Rutanen, suzauto. 

Como eu nunca havia ouvido essa palavra antes, disse-lhe que não estava entendendo-o. Mas o homem insistia tanto, a ponto de não me deixar entrar na clínica. Foi quando ele se agachou e tirou meu tênis. Ele queria falar shoes out, ou seja, tire os sapatos. O médico disse-me que tive muita sorte. Se essa cobra tivesse me mordido, teria sido um pouco complicado porque, apesar de haver um helicóptero para casos de emergência, demoraria pelo menos vinte minutos até o hospital mais próximo. Falou-me também que esse episódio era muito raro de acontecer ali onde tudo era controlado e checado para proteger os estrangeiros. Não conseguimos entender de onde apareceu aquela cobra que, no dia seguinte, foi encontrada na fábrica, na sala dos computadores, sendo morta imediatamente.

Ilha de Batam - Indonésia (fotos by springvijay via Flickr)
Templo Indu - Ilha de Batam

Minha vida continuava normal, participávamos de todos os eventos e, nos finais de semana, sempre íamos a algum lugar. À noite, reuníamo-nos no bar do hotel para um bate-papo informal, sempre depois do jantar, na companhia dos finlandeses e de outros estrangeiros.

Na semana do Natal, houve a festa da empresa em um hotel na cidade de Pekanbaru, que é a capital da Província de Riau, com direito a comidas típicas natalinas e amigo secreto.

Na semana seguinte, passamos o Ano Novo também no mesmo hotel com um bufê maravilhoso e champanhe. Houve também sorteios de muitos prêmios e, para minha surpresa, fui sorteada com três diárias grátis no hotel em que estávamos hospedados. O hotel tinha até um nome engraçado: Mutiara Merdeka.






Recepcionista do hotel Murtiara Merdeka

Alguns dias depois, fomos convidados para um jantar na casa de uma família de um senhor canadense e sua esposa brasileira. Ela não gostava de falar sua nacionalidade e dizia sempre que era canadense. Estávamos todos sentados à mesa na casa dessa brasileira. Entre os convidados estava um casal finlandês – ele, diretor de uma empresa da Finlândia, e a esposa, professora de uma escola sueca em Helsinki. Ela estava conversando com outra senhora e falava que havia chegado recentemente da Finlândia e que estava encantada com o talento de um jovem de l8 anos em razão de uma peça de teatro que havia assistido três dias antes na Casa da Cultura. Esse jovem do qual ela falava havia dirigido a peça Anna Karenina, de Leo Tolstoi, e regido a orquestra na exibição. A emoção tomou conta de mim porque sabia que aquele garoto de quem ela falava era Ricardo, meu filho. Jouko tomou a palavra e, com muito orgulho, visivelmente emocionado, mencionou que esse jovem era o nosso filho. 

Em outro desses finais de semana, fomos visitar o Marco da Linha do Equador. É sempre uma emoção muito forte conhecer esses lugares.

Marco da Linha do Equador, em Pontianak, Indonésia

Um mês depois, retornei à Finlândia. Era final de janeiro de l995, e já estava na hora de ir para o Brasil porque não aguentava mais as saudades, principalmente de Litinha. Jouko ficou ainda trabalhando. Depois de duas semanas na Finlândia, voei para o Brasil e, como sempre, permaneci lá por três meses. Dentro desses três meses, Jouko foi me visitar por duas semanas. Passeamos muito, inclusive fomos passar três dias no Conde, minha terra natal. Ficamos hospedados no melhor hotel que lá existia, mas Jouko não gostou dos serviços porque não faziam jus ao preço que cobravam. Alguns dias antes de meu retorno à Finlândia, comecei a fazer as compras dos materiais para a festa de formatura de Ricardo, que seria realizada no início de junho. Para as famílias finlandesas, é motivo de orgulho e de grandes festas a conclusão do segundo grau de um filho, pois, a partir daí, ele já está preparado para uma universidade e uma profissão, e o Governo fica responsável pelos estudos, inclusive dando moradia e salário ao estudante. A Finlândia é um dos poucos países no mundo que paga para o cidadão estudar.

Eu estava muito ansiosa porque, apesar de Ricardo ser o filho mais novo, era o primeiro a nos dar essa alegria. Comprei sua roupa no Brasil: um terno branco de linho, colete e gravata bege de cetim, sapatos e meias pretas. Para combinar, comprei para mim saia e blazer de linho branco, blusa marrom de crepe de seda e echarpe combinando. Usei o colar e os brincos de pérola que havia ganhado de Jouko em Singapura. A cerimônia foi realizada na escola, às 9h, e a festa, em minha casa. Decorei as mesas com toalhas brancas de detalhes prateados. Teve um bufê com peru, salmão defumado, canapés de caviar, torta fria de camarão, torta fria de atum, vários tipos de salada, inclusive salada tropical, e, como sobremesa, doces finlandeses, o bolo da formatura, e servi doces típicos brasileiros para os cento e cinquenta convidados. Para beber, foram servidos refrigerantes, cervejas, vinhos tinto e branco, licores e champanhes. Tive que conseguir um lugar para tantas rosas que meu filho recebeu dos convidados. É tradição, nesse tipo de festa, na Finlândia, que os pais, junto com o formando, brindem com champanhe toda vez que um convidado chega. Depois de algum tempo, eu só brindava, não podia tomar nenhum gole a mais porque teria que estar bem para conduzir aquela festa da maneira como havíamos sonhado. Também faz parte da tradição, os convidados darem como presente um cartão de congratulações e, dentro desse, um cheque no valor estimado pelo convidado. Eu estava exausta depois de várias semanas de preparativos da formatura.



Antes disso, durante a cerimônia, pela manhã, o reitor da escola anunciou:

– Senhoras e Senhores, tenho a honra de trazer ao palco um jovem talentoso, um de nossos formandos. 

Este jovem era Ricardo, meu filho. Eu não acreditava no que via. Ricardo entrou elegantemente vestido, segurando um violão, sentando-se em frente à plateia com toda a serenidade que lhe é típica e começou a solar o Choro nº1 de Villa Lobos. Ouvia-o tocar extremamente emocionada, não conseguia conter as lágrimas. Eu olhava aquelas pessoas, em torno de quinhentas, atentas e em silêncio a escutar meu filho. Sentia meu coração apertado porque algumas das pessoas que eu mais amava não estavam presentes naquele momento: meu pai, falecido havia dois anos, e minha irmã gêmea, que se encontrava no Brasil. Nessa hora, chorei e agradeci a Deus por mais uma realização em minha vida. 

Depois da cerimônia, que demorou em torno de duas horas, seguimos para minha casa a fim de receber nossos convidados. A festa estendeu-se até a noite e, no outro dia, ainda recebi aqueles que não puderam comparecer no dia anterior.

Eu estava exausta, mas muito feliz. No dia seguinte, meu marido decolou para a Espanha para trabalhar em um projeto por quatro meses. Depois que me recuperei do trabalho da festa de Ricardo, fui encontrar-me com ele em Torremolinos, Costa del Sol, na Espanha. Jouko estava trabalhando em Anteguera, distante cinquenta quilômetros de Torremolinos. Para meu bem-estar, Jouko quis que eu ficasse em um hotel próximo ao mar, mesmo ele tendo de dirigir todo santo dia cem quilômetros para passar a noite comigo.

Lembro-me de que esse foi um verão europeu muito quente. Uma vez saímos do restaurante às duas da madrugada, e os termômetros marcavam 39ºC. O ar-condicionado do hotel não era suficiente, não conseguíamos dormir com tanto calor e, para refrescar, molhávamos uma toalha para colocá-la na testa.



Passeávamos muito e íamos a Marbella passar alguns finais de semana. Adriana foi passar duas semanas conosco, e gostei muito porque tinha companhia durante o dia.

Marbella, Espanha (foto by elsa11 via Flickr)

Fizemos uma viagem para Tânger, no Marrocos. Pegamos o ônibus da excursão de Torremolinos até Gibraltar. Perto de chegarmos ao porto, pudemos apreciar as construções com influência árabe, inclusive um castelo construído no século XIII. De lá, tomamos um barco para cruzar o Estreito de Gibraltar e, já dentro do mesmo, fomos orientadas por nosso guia a ficar na fila a fim de conseguir o visto de entrada para o Marrocos. Depois de duas horas e meia, chegamos ao Porto de Tânger, onde havia dois ônibus à nossa espera, com guias marroquinos vestindo roupas típicas. Visitamos os pontos turísticos e vimos um show de cobras dançando. Depois, fomos ao restaurante já reservado para o grupo. A decoração era feita com grandes tapetes vermelhos, inclusive nas paredes. A comida era típica, e foi-nos servido cuscuz com frango, frutas e sopa. Como bebida, refrigerantes, chás, água mineral e licor de damasco. Durante o almoço, fomos surpreendidos com a entrada de uma dançarina, também com roupas vermelhas, dando um show de dança do ventre de tirar o fôlego.

Tânger, Marrocos (Foto by Jorge BRASIL e betta designer via Flickr)


Depois do restaurante, fomos às compras, a uma loja de tapetes persas, com a qual eu fiquei impressionada pela arte apresentada e comprei um pequeno porque era mais fácil de carregar. Comprei também um conjunto de prata de peças para chá e algumas peças de decoração em bronze. No final da tarde, retornamos para a Espanha.


Fotos by Jorge BRASIL


No dia seguinte, nove de agosto, era aniversário de Jouko. Fomos jantar em Marbella, a cerca de duas horas de carro de Torremolinos. Jouko e Adriana tomaram bastante sangria, uma bebida típica espanhola, por isso tive que voltar dirigindo.

Alguns dias depois, retornei à Finlândia. Ainda no aeroporto de Málaga, fiz uma ligação para o Brasil e fiquei sabendo que vovó Julieta, a mãe de papai, havia falecido.

Em outubro do mesmo ano, fui passar uma semana em Londres com Anapaula. Ficamos hospedadas em um hotel bastante confortável, perto da Oxford Street, paraíso das compras no centro de Londres. Todos os dias, tínhamos sempre um passeio a fazer, visitamos castelos e museus. Assistimos, no Palace, à peça Les Miserables, do escritor francês Vitor Hugo. Sentamos na primeira fila, e, em um dado momento, o ator principal da peça estava representando um personagem que cantava com muita emoção, pedindo ajuda a Deus pela recuperação do jovem filho que havia sido baleado. Esse episódio emocionou-me muito e, não conseguindo conter as lágrimas, chorei junto com o ator. No final da cena, as pessoas jogaram rosas no placo para ele, que se abaixou, pegou uma das rosas e jogou-a para mim. Foi uma emoção à parte. À noite, sempre íamos jantar em um restaurante brasileiro que ficava perto de nosso hotel, e assim matávamos a saudade de nossa comida. No domingo, fomos à feira de Porto Belo, a maior feira livre do mundo. Na última noite, eu estava muito cansada, e Anapaula foi sozinha ao restaurante brasileiro onde encontrou alguns corredores de Fórmula 1 e também participou da comemoração que eles estavam fazendo. 
Londres
frente ao Castelo de Windsor - Londres

Londres



Frente ao Buckingham Palace - Londres

Na semana seguinte, já de volta à Finlândia, Anapaula, que morava no centro de Helsinki, foi jantar em minha casa, decidida a passar a noite conosco. Acendi a lareira, e ficamos assando salsichas, ouvindo música e conversando. Anapaula e Adriana, então, resolveram subir para dormir, enquanto eu fiquei acomodada na cadeira de balanço, olhando o fogo e curtindo aquele ambiente aconchegante. Anapaula me chamou, e eu lhe disse que já estava indo. Passados alguns minutos, tornou a me chamar e, diante de sua insistência, decidi levantar-me e ir a seu encontro no andar de cima. Já estava começando a subir a escada quando ouvi um barulho muito forte de explosão. A impressão que tive foi de que alguma coisa muito pesada havia desabado. Minhas filhas vieram correndo e gritando, perguntando-me o que havia acontecido. Fomos direto para a sala da lareira, e qual não foi minha surpresa ao perceber que, assim que me levantei da cadeira, as duas portas de vidro da lareira explodiram em função do forte calor, e os pedaços grossos de vidro cravaram-se na cadeira e na parede, exatamente no lugar em que eu estava sentada. Isso me deixou muito impressionada e, mais uma vez, agradeci a Deus pela vida. Anapaula decidiu ir embora e pediu-me que a levasse para casa naquela mesma noite. O carro estava lá fora, e não havíamos percebido que havia nevado. Pensei duas vezes antes de sair porque o carro ainda estava com pneus de verão, mas, diante da insistência de minha filha, resolvi ir assim mesmo. Saímos do condomínio onde eu morava e dirigimo-nos para a rua em direção a transversal a fim de tomar a rua principal e seguir para Helsinki. Quando tentei parar o carro, ele derrapou, dando um cavalo de pau. Nossa sorte foi que não vinha nenhum carro. Disse para Anapaula que, diante disso e do que havia acontecido em casa antes, o melhor era voltarmos para lá e tentarmos dormir, além do mais, já passava da meia-noite. E foi o que fizemos.

Na Finlândia, temos que ter pneus para o verão e outros especiais para o inverno. O dia 2 de novembro é o último dia para a troca de um pelo outro. Depois desse dia, se a pessoa não colocar os pneus adequados, o que acontecer com o carro não será mais responsabilidade do seguro. Da mesma forma, quando termina o inverno, lá para o dia 15 de abril, quase chegando a primavera, esses pneus precisam ser substituídos novamente pelos de verão.

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