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Sunday, June 23, 2013

MAIS UM SONHO REALIZADO: MEU REENCONTRO COM JOSELITA


Antes de seguirmos acompanhando a Trilha, vamos a algumas fotos (que não foram colocadas no post anterior, as duas primeiras):


Finlândia, anos 90s
Finlândia, anos 90s - um chameguinho com meu marido - amo!









Eu e minha filha, num festival

No verão do ano seguinte, um de meus maiores sonhos foi realizado. Mandei buscar minha irmã gêmea no Brasil para conhecer a Finlândia. Ela embarcou em Salvador com destino a Frankfurt, na Alemanha, acompanhada de uma médica amiga nossa. Durante o voo, já perto de chegarem ao território europeu, o comandante do avião perguntou se havia algum médico a bordo, pois uma senhora estava passando mal. Nossa amiga apresentou-se e começou a cuidar da senhora que estava tendo um acidente vascular cerebral. Essa médica, então, dirigiu-se ao comandante, pedindo que interrompesse imediatamente a viagem:

– Comandante, infelizmente teremos que descer no próximo aeroporto porque essa paciente necessita ser hospitalizada imediatamente. Caso contrário, terá apenas duas horas de vida.

– Doutora, não posso fazer isso sem a autorização da companhia aérea, pois seria necessário que jogássemos todo o combustível fora para pousarmos. – respondeu o comandante.

– Então, o senhor é o responsável pela vida dessa senhora. – disse-lhe a médica.

Finalmente, depois de concedida a autorização, o avião pousou em Madri. Lá permaneceram algumas horas a fim de atender a todas as burocracias. Minha amiga chegou ao aeroporto de Helsinki muito cansada por causa desse episódio.

No aeroporto, não pude conter a emoção ao ver Joselita, minha irmã gêmea, e saber que iria tê-la em nosso lar por três meses, prazo permitido pelo governo finlandês para o visto de turismo. Joselita iria desfrutar conosco aquela vida maravilhosa que estávamos levando.
Emoção do Reencontro!
Fomos para casa comer o salmão delicioso que havia preparado para elas. No dia seguinte, fui fazer a revisão de meu carro, e elas ficaram preparando nosso almoço, porém esqueci-me de avisar que, como o fogão era elétrico, o cozimento era muito mais rápido do que o do fogão a gás. Minha irmã colocou a frigideira para aquecer e, quando despejou o óleo, o alarme de incêndio começou a apitar. Não sabiam o que fazer, principalmente quando chegou o corpo de bombeiros. Ao chegar a minha casa, encontrei as duas ainda aflitas e sem entender direito o que tinha acontecido.


No dia seguinte, acordei muito ansiosa, pois à tarde meu marido chegaria de Cingapura, para onde tinha ido a trabalho. Jouko estava feliz por saber que minha irmã havia chegado. Depois de dois dias, fomos para nossa casa de verão passar uma semana.

cidade histórica chamada Turkku





Na semana seguinte, nossa amiga viajou para Rodhes, uma das ilhas gregas, com minha filha Anapaula, que lhe serviu de intérprete uma vez que não falava inglês. Ficaram lá duas semanas. Enquanto isso, eu levei minha irmã para Estocolmo.

– Minha irmã! Que navio lindo é esse! – dizia Joselita extremamente emocionada.

Nas viagens anteriores que tinha feito ao Brasil, eu falava muito sobre o luxo desses navios que cruzam o Mar Báltico da Finlândia para a Suécia e vice-versa.


Estávamos viajando na primeira classe do Cinderela, um dos navios mais bonitos da linha Viking Line. À noite, descemos para jantar e, para nossa surpresa, a orquestra do restaurante tocava música brasileira. Passeamos bastante em Estocolmo, retornando a Helsinki no mesmo navio depois de dois dias. Após essa viagem, fomos para nossa fazenda, e lá, ela curtiu a sauna a lenha na beira do lago, o banho gelado e a sauna de pedras, que é típica da Finlândia. Andamos de lancha para conhecer as ilhas, e ela também desfrutou da plantação de morangos, maçãs e apreciou as flores silvestres, em grande quantidade nessa época.

Sauna na beira do lago, 1:30 da manhã


Na Finlândia, a sauna é praticamente uma religião, uma parte integrante do "círculo da vida" finlandês desde a Idade da Pedra. Saunas eram usados ​​para o parto, para curar os doentes, para celebrar os chás de panela, e, finalmente, para lavar os mortos. Mesmo os heróis da Kalevala, épico nacional da Finlândia, tomaram saunas. A sauna pode aliviar a pressão alta e má circulação, é um verdadeiro. Há diferentes tipos de saunas, desde as elétricas mais modernas até as mais rústicas. Hoje, há pelo menos uma sauna para cada um dos cinco milhões de finlandeses. Familiares e amigos se encontram para saunas semanais em casas e apartamentos

Uma semana antes de retornar ao Brasil, fomos a um restaurante onde Joselita conheceu um sueco divorciado que ficou muito interessado nela. No final do ano, como de costume, eu, Adriana e Anapaula fomos passar alguns meses no Brasil e, em nossa volta à Finlândia, levamos Joselita, pois o sueco que ela havia conhecido mandou buscá-la. Ele tinha planos de passear com ela pela Europa, já que sua empresa estava participando de um congresso em Viena, na Áustria. Mas, antes, ficariam alguns dias em Portugal. Decidi ir com ela para Portugal, na cidade de Cascais, e nos hospedamos em um hotel que era um empreendimento da Construtora Norberto Odebrecht do Brasil. Aproveitamos bastante tudo que a cidade tinha a oferecer, inclusive assistimos a um show no Cassino Estoril. Eu já havia me esquecido das pedras na vesícula e abusei dos frutos do mar. Tive outra crise, dessa vez pior que a do Chile. Minha irmã estava já em Viena e eu estava hospedada em Estoril, na casa de uma grande amiga portuguesa, Paula, que morava na Finlândia. Decidi retornar à Finlândia dois dias antes do previsto.

Minha irmã Joselita com o namorado sueco e Jouko, em um jantar em nossa casa.
Cascais, Portugal (Foto by Margarita, via Flickr)


Cassino Estorial, em Cascais (Foto by Agenor Maia, via Flickr

Minha irmã disse-me, então, que, nesse caso, retornaria também para a Finlândia em dois dias porque seu namorado, Rolf, voltaria para a Suécia. Combinamos, mesmo que estivéssemos em voos separados, de nos encontrar no aeroporto de Helsinki. Quem chegasse primeiro esperaria pela outra. Joselita chegou no horário, estranhou porque não me viu e decidiu esperar. Depois de duas horas, já impaciente e preocupada, quando viu que ninguém aparecia, decidiu tomar um táxi e ir sozinha para casa. Ela só se esqueceu de um pequeno detalhe, só sabia falar português.


– Senhora, poderia me falar para onde devo levá-la? – deve ter dito o motorista do táxi.

Minha irmã olhou para ele e nada falou. Primeiro porque não entendeu o que ele disse, segundo, porque não sabia falar meu endereço. Foi então que se deu conta do erro cometido ao se precipitar e tomar o táxi sozinha. Sem saber o que fazer, teve a ideia de falar o nome Rutanen. O motorista parou o carro, pegou a lista telefônica e começou a telefonar para todos os Rutanens que havia na lista.

Por sorte, no quinto telefonema, Adriana atendeu, e o motorista disse-lhe:

– Tenho aqui em meu carro uma senhora muito nervosa que não fala língua nenhuma e não sabe para onde vai.

Adriana pediu-lhe que colocasse essa pessoa ao telefone e descobriu que era a minha irmã, dando-lhe o endereço. O meu vôo atrasou bastante em Lisboa.


Liguei para Adriana para informá-la sobre o atraso, achando que Joselita iria ter paciência e esperar-me.

No outro dia, fui consultar um médico e marquei minha cirurgia da vesícula para a semana seguinte, mesmo morrendo de medo. Aproveitei que minha irmã estava comigo e que podia contar com sua ajuda para minha recuperação.

Apesar da boa assistência, eu estava muito nervosa. No primeiro dia de meu internamento, antes de ser encaminhada para a sala de cirurgia, recebi a visita de uma psicóloga que conversou comigo e me tranquilizou. Acordei algumas horas depois da anestesia, um pouco enjoada, mas sem sentir nenhuma dor.

Dois dias depois, resolvi perguntar para a enfermeira porque não sentia nada. Então, ela me disse que a injeção azulzinha que eu tomava todas as manhãs era morfina, usada como analgésico. Durante esse tempo, meu marido estava com um projeto na Índia, mas acompanhou tudo pelo telefone, e, inclusive, as primeiras flores que recebi no quarto foram dele. Depois de uma semana, já me sentindo melhor, voltei para casa e, com os cuidados de minha irmã, um mês depois, já estava recuperada.

No hospital, recuperando da cirurgia de vesícula

A primavera estava chegando, e minha irmã adorava cuidar do jardim, mesmo que ainda não tivesse flores. Certo dia, entrou em casa correndo pedindo que fosse com ela ao jardim porque já estava observando, havia algum tempo, um pedacinho de gelo que se movia no chão. Quando removemos o gelo, percebemos que o rebento de uma tulipa estava saindo. Foi uma emoção à parte.

Tulipas

As quatro estações do ano na Finlândia são bem distintas. Na primavera, há muito verde, muitas flores e ainda é um pouco frio. Essa estação, para mim, é a mais linda de todas. Quando chega o mês de abril e a neve começa a descongelar, o que se vê é algo que não pode ser descrito em palavras. A cada dia, as cores ficam mais intensas, dos brotos às flores. A cada semana, nota-se um visual diferente, pois o verde vem chegando com força total. Como existem no País muitos pés de maçã, cereja e outras frutas, essas árvores se enchem de flores no mês de maio. A flor da maçã é um espetáculo para os olhos. No verão, há muito verde, muitas flores e é um pouco mais quente. No outono, o verde dá lugar a um colorido encantador amarelo ouro e laranja. Já no inverno, temos muita neve, mas, apesar de muito frio, com os termômetros passando, às vezes, dos -30ºC, essa é uma estação muito bonita.


Mais uma vez, depois de seis anos, eu e Joselita passamos nosso aniversário juntas. Pela manhã, além de dar flores para minha irmã, Jouko deu-me um buquê de rosas vermelhas. Quando estava colocando-as no vaso, percebi que alguma coisa havia caído. Era uma caixinha de veludo vermelho, contendo um par de brincos cravejados de rubis e safiras verdes e azuis que ele havia comprado em Bankoc alguns dias antes. À noite, fomos comemorar em um restaurante no centro de Helsinki. Na semana seguinte, minha irmã retornou ao Brasil, em razão do nascimento de sua primeira neta, Ida Janine, nome esse escolhido por mim, pois assim era chamada a mãe de Jouko, Ida Johanna.

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