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Monday, June 10, 2013

DE VOLTA PARA SALVADOR

Três meses depois, com o coração estraçalhado de saudades de meus filhos e de minha família, tomei um vôo de volta para o Brasil. Sozinha, sem falar ainda o inglês, consegui chegar ao Rio de Janeiro e seguir dali para Salvador.


– Senhora, por gentileza, queira sentar-se e apertar o cinto de segurança porque já estamos descendo em Salvador. – falou-me a aeromoça da Varig.

Em poucos minutos, expliquei à comissária minha situação, e ela providenciou que eu fosse a primeira pessoa a desembarcar. Ainda dentro do avião, através da janela, via a quantidade de pessoas que estava à minha espera. Quando surgi na porta, extremamente emocionada, ouvi os gritos de alegria de meus filhos. Ali mesmo na escada perdi os sentidos. Quando acordei, estava já no aeroporto abraçada a eles. Foi uma alegria infinita vê-los novamente. Já em casa, recebi a visita de um médico. Eu havia perdido a voz, e, segundo o médico, a razão foi a emoção muito forte que tive ao estar novamente com meus filhos, podendo ver o sorriso e a expressão de alegria no rosto daqueles baixinhos que tanto amava. No dia seguinte, estava preparada para ir à luta.

Chegada no Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães, Salvador-Bahia, sendo recepcionada pela minha família

Dessa vez, faria de tudo para levá-los comigo. Tinha que convencer meu ex-marido de que eu só queria o melhor para eles. Tivemos um encontro em vão:

– Levante-se daí porque não vou assinar esse papel! – dizia-me o ignorante do pai biológico de meus filhos puxando-me pelos cabelos.

Eu estava ajoelhada no escritório de meu advogado, pedindo a meu ex-marido que me ouvisse e assinasse aquela autorização. Não fui atendida. Meu advogado tentava mostrar para ele uma carta feita por minha amiga Nice, que já havia retornado de sua viagem, pois ela, melhor que ninguém, podia testemunhar a qualidade de vida que tínhamos na Finlândia, a idoneidade de Jouko e, principalmente, sua vontade de dar-nos o melhor. De nada adiantou. 

Prevaleceram a maldade, o machismo e a ignorância. Esse homem nunca fez nada pelos filhos. Acredito até que, enquanto viver, jamais aceitará minha vitória. Quando éramos casados, sem que eu me desse conta do absurdo, ele ia ao cartório e registrava as crianças só com o sobrenome da família dele. 

Dizia-me que o sobrenome Silva Santos não tinha nenhum valor porque só as pessoas pobres e sem importância que teriam esse sobrenome. Hoje, depois de mais de trinta anos, posso ver claramente a barbaridade que ele fez comigo, como fui boba e manipulada por uma pessoa sem escrúpulos e sem ética. Mas, mesmo assim, Jouko, com toda a sabedoria que tem, pede-me para perdoá-lo, pois as pessoas que vivem na escuridão, não têm acesso ao conhecimento e não podem ser criticadas.

Gostaria que no Brasil houvesse uma lei segundo a qual eu pudesse mudar esse quadro e dar a meus filhos o sobrenome de minha família, de que me orgulho muito. Esse ex-marido fez muitas outras barbaridades comigo, mas não posso mencioná-las a fim de preservar meus filhos e minha família.

Passaram-se dois meses, eu continuava no Brasil e já estava dividida novamente por causa da saudade que sentia de Jouko. Se ficasse no Brasil, como manteria aquele relacionamento à distância? Que futuro daria para meus filhos? Mais uma vez reuni todas as minhas forças para separar-me de meus filhos.

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