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Sunday, June 30, 2013

ALGUMAS SITUAÇÕES DESAGRADÁVEIS



dança pikkujoulu

No início de dezembro do mesmo ano, fiz uma linda festa que é tradição na Finlândia e antecede o Natal, chamada Pikku Joulu, que significa pequeno Natal. Convidei em torno de sessenta pessoas, dentre elas, muitos brasileiros que viviam na Finlândia. Pendurei sessenta bolas nas paredes, mas duas delas continham papéis anunciando prêmios: uma floreira e um vaso para água, ambos de cristal. As bolas restantes continham papéis com brincadeiras, e quem as estourasse teria de fazer o que estava escrito. Foram servidas comidas típicas do Natal e vários tipos de bebidas. Foi uma noite de muita alegria e brincadeira. Esse tipo de festa era muito comum em minha casa, mas decidi que não as faço mais, exceto com as pessoas que sei que são realmente amigas, pois as experiências que tive com alguns brasileiros foram um pouco decepcionantes. 

Uma vez recebi em minha casa, durante duas semanas, um casal de Salvador. Eram amigos de minha amiga médica que já tinha estado na Finlândia anteriormente. Quando chegaram à Escandinávia, desceram em Estocolmo, passando lá uma noite. Fui encontrá-los e assumi as despesas do hotel. Eu os recebi muito bem, levando-os para vários lugares. Mas a amizade não vingou porque, alguns dias depois de retornarem ao Brasil, nós descobrimos que ela recebia entidades do candomblé e havia feito uma cruz em meu jardim com uma vela no meio. Não conseguimos entender sua intenção, mas imaginamos que coisa boa não era. Nunca mais os vi.

Outra vez, a mesma amiga médica apresentou-me um casal de médicos de Salvador. Não sei o que acontecia comigo, mas parecia que eu nunca sabia dizer não a ela, talvez por ter cuidado de papai antes. Como tenho uma facilidade incrível de esquecer as ingratidões, também aceitei recebê-los em minha casa. Antes de chegarem à Finlândia, desembarcaram em Copenhagen para uma estadia de três dias. Mandei para eles, assim que chegaram ao hotel, uma garrafa de champanhe francês Cordon Rouge com um cartão dando-lhes as boas-vindas à Escandinávia. Quando chegaram à Finlândia, fui buscá-los no aeroporto e levei-os para minha casa, acomodando-os em meu quarto. Ainda programei para eles uma viagem de três dias à Rússia. Lembro-me de que estava tentando explicar para esta senhora alguma coisa sobre a viagem deles e, em um dado momento, como ela não estava conseguindo entender algo que eu dizia a respeito da excursão, deu-me um grito tão grande que o próprio marido depois me pediu desculpas. Após essa grosseria, inadmissível por parte de uma médica e, principalmente, depois do que fiz para eles, continuei a tratá-los bem, mas percebi que essa não era uma amizade saudável para mim e nem para minha família. Nunca me mandaram nenhum cartão de agradecimento. Porém, não aprendi a lição.


               

Dois anos mais tarde, outro casal recebeu de mim uma garrafa de champanhe francês no quarto de um hotel em Helsinki, com os cumprimentos de boas-vindas. Eles também eram de Salvador. Fui buscá-los onde estavam hospedados e ofereci-lhes um jantar. E novamente nunca recebi um cartão de agradecimento. Isso mata um pouco o entusiasmo de demonstrar carinho e amizade às pessoas.

No início de janeiro de l996, vivi mais uma situação desagradável na Europa. Depois de oito meses longe de minha irmã gêmea e da família, decidi ir novamente ao Brasil. Jouko e Anapaula foram me levar ao aeroporto. Nesse dia, estava nevando muito, e nosso trajeto demorou mais tempo do que o normal. Eu iria viajar pela KLM, uma companhia aérea da Holanda, e faria a rota Helsinki-Amsterdam-Paris-Salvador. Quando cheguei para fazer o check in, a pessoa que me atendeu disse-me, grosseiramente, que eu estava atrasada. Desculpei-me alegando o mau tempo. Anapaula resolveu tomar minhas dores e deu-lhe uma resposta malcriada. Recebi dessa funcionária meu cartão de embarque, despedi-me de Jouko, de minha filha e saí apressadamente para o controle de passaportes e, depois, para o portão de embarque. Ao chegar ao portão, olhei para o relógio e vi que faltavam somente sete minutos para a decolagem. Notei, também, que não havia mais nenhum passageiro próximo ao portão de embarque. Nessa hora, para minha surpresa e desespero, vi a mesma pessoa que fez meu chek-in vindo em minha direção, dizendo-me: 

– Infelizmente, o portão já está fechado, e a senhora não irá a lugar nenhum.

Disse-lhe que ainda tinha alguns minutos e que não poderia perder aquele voo, pois era o último daquele dia, e precisava pegar o da Varig para o Brasil no mesmo dia à noite. Não adiantou meu argumento. Estava claro que a atitude daquela funcionária teria sido, simplesmente, a maneira que achou de se vingar de mim por causa da resposta que minha filha havia lhe dado. Olhei para todos os lados e não vi ninguém para pedir ajuda. Enquanto discutíamos, o avião decolou. Não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo. Não tive alternativa a não ser a de voltar ao andar de baixo, no desembarque, a fim de retirar minha bagagem. Mas, antes disso, procurei um telefone para avisar em casa que, quando Jouko chegasse, retornasse ao aeroporto para me buscar. Nem cheguei a telefonar, pois Jouko e Anapaula estavam vindo em minha direção. A sorte foi que, quando embarquei, eles resolveram parar nas máquinas de jogos que havia no aeroporto. Meu marido foi imediatamente para a KLM fazer a reclamação, mas já havia encerrado o expediente.

Fomos para casa e, no dia seguinte, nossa primeira providência foi ligar para nosso advogado e saber quais os direitos que teríamos perante essa empresa aérea. Recebemos a informação de que, se entrássemos com uma reclamação na justiça, a empresa pagaria uma indenização muito alta. Para isso, não poderia voltar ao Brasil pelo menos por alguns meses, mas minha vontade de rever minha família era tanta que optei por não ir adiante com essa briga. O advogado ligou para a empresa aérea que, além de se desculpar pelo ocorrido, pagou a gasolina de ida e volta ao aeroporto e a multa de duzentos dólares que eu havia pagado para trocar meu bilhete por um de outra empresa para viajar em outro dia. E a tal funcionária foi demitida. 

Na tarde do dia seguinte, tomei o voo da Finnair para Frankfurt. De lá, seguiria com a Varig para Recife e depois Salvador. Ainda no aeroporto, dentro da aeronave, tivemos que esperar por volta de quarenta minutos por um passageiro que havia se atrasado devido ao mau tempo. Fiquei imaginando a má vontade e a falta de respeito por parte daquela funcionária da KLM que não pôde esperar por mim cinco ou dez minutos a mais. Chegando a Frankfurt, dirigi-me à Varig a fim de receber meu cartão de embarque para Recife e tive outra surpresa. Descobri, através da empresa aérea, que nosso voo estava cancelado:

– Senhora, sentimos muito pelo acontecido e gostaríamos que fosse ao desembarque, retirasse sua bagagem e se dirigisse ao Hotel Sheraton daqui do aeroporto. Amanhã pela manhã decolaremos para Recife.

Desci as escadas rolantes para buscar minha bagagem e fique pensando, até com certo temor, sobre o fato de estar enfrentando tantos contratempos.

Na recepção do hotel, deram-me as chaves de meu apartamento. Quando abri a porta do mesmo, não pude conter a surpresa ao ver que já havia uma pessoa instalada. Liguei para a recepção e fiquei sabendo que a Varig havia colocado duas pessoas no mesmo quarto. Mesmo essa pessoa sendo uma mulher, eu não achei confortável dormir com alguém desconhecido. É lógico que não consegui dormir, pois tinha comigo dinheiro e joias e o fato de não conhecer a pessoa, naturalmente, dava-me insegurança. Talvez essa pessoa, minha companheira de quarto, sentisse o mesmo. Mais uma vez, precisei ligar para o Brasil e avisar minha família sobre a mudança de horário de minha chegada.

Finalmente, continuamos a viagem no dia seguinte. Estávamos sobrevoando as Ilhas Canárias quando começou uma forte turbulência. Comecei a ficar com muito medo e pedi uma dose de uísque, bebida que sempre evitei por conter muito álcool. Como senti que aquela dose deixou-me relaxada, pedi outra e, a partir daí, não me lembro de quantas mais eu bebi, nem da chegada a Recife. Não sei nem como retirei minha bagagem. A única coisa de que me lembro é que, no aeroporto, estava deitada no sofá da sala de uma empresa e um rapaz deu-me uma xícara de café. Não estava me sentindo bem e resolvi verificar a pressão, que estava muito alta. Pedi ao rapaz para chamar um médico, que me disse:

– Senhora, sua pressão está muito alta, mas, infelizmente, não posso medicá-la por causa do álcool em seu organismo. Aconselho que se mantenha deitada e tome bastante líquido como água, sucos e chás. 

Permaneci assim por três horas e, ainda tonta, segui viagem para Salvador. Durante quase uma semana, não me senti muito bem. Até hoje não consigo nem olhar para uma garrafa de uísque. Como experiência, valeu.

Dessa vez, fiquei por quatro meses no Brasil. Minha irmã havia se mudado para o Conde para viver lá novamente depois de quinze anos separada do primeiro marido. Fui passar alguns dias com ela, e, às vezes, ela ia a Salvador ficar comigo e com suas filhas, que continuavam a morar em meu apartamento. Por mais que ficássemos muito tempo juntas, não era o suficiente para matar as saudades porque o grande problema, além do tempo em que ficávamos separadas, era a distância muito grande entre a Finlândia e o Brasil.

Recebi em meu apartamento, durante esse tempo no Brasil, uma finlandesa que havia ido visitar os filhos em Salvador, e eles alegaram que ela não podia ficar na casa deles por falta de espaço. No final de sua estadia, ela ficou doente, sendo necessário chamar uma ambulância. Ela contraíra uma forte gripe e ficou de cama por uma semana. Cuidamos dela como se fosse da família. E como os outros, essa finlandesa nunca nos agradeceu.

Pela tarde, fui à barraca de revistas que ficava em frente ao prédio onde morava. Na saída, com as revistas em mãos, tropecei em uma boca de lobo e caí. Nessa queda, por infelicidade, tive uma luxação muito forte, e foi necessário engessar minha perna até a altura do joelho. Mas queria retornar à Finlândia, pois tinha muitas saudades de meu marido e meus filhos, além da necessidade de começar os preparativos para o noivado de Anapaula. Pensei, então, em como faria para enfrentar uma viagem tão longa naquela situação. Tinha uma saída, que era comprar um bilhete para outro dia já que, com o seguro, deveria ser reembolsada em caso de acidente ou doença inesperada. Decidi ir ao aeroporto assim mesmo e pedir um acompanhamento por parte da empresa aérea porque eu sabia que eles tinham esses serviços. Chegando ao balcão da empresa, já me trouxeram uma cadeira de rodas e uma pessoa para me acompanhar até a aeronave. Ao entrar no avião, fiquei surpresa ao constatar que me levaram para a primeira classe, acomodaram-me em uma poltrona confortável e colocaram um comissário para ficar à minha disposição. Essa classe estava lotada com pessoas de uma metalúrgica do Rio Grande do Sul, sendo eu a única mulher. Os cavalheiros receberam-me com palmas, brincadeiras e até cantaram uma música. Pude, então, comparar com o que havia acontecido em minha viagem para o Brasil com todos os transtornos que sofri por parte da KLM. Nota dez para a Varig!

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